A sondagem de solo ou investigação geotécnica é de suma importância em obras de piso industrial. No entanto, por que ela é tão relevante assim? Quais são suas particularidades? De quais formas ela interfere nos projetos? Existem normas por trás dessa prática?
Para tratar dessas e de outras questões afins, preparamos este artigo com base na nossa conversa com um especialista na área. Ao longo do texto, você conhecerá as regulamentações de sondagem e os procedimentos a ela relacionados. Aproveite!
A importância da sondagem de solo
Com o objetivo de produzir este texto com a perícia exigida pelo assunto, entrevistamos Thiago Fioravanti, que é engenheiro civil e coordenador técnico da Belgo Arames — referência brasileira no mercado de fabricação de arames.
De acordo com o especialista, a sondagem serve para avaliar qual é a resistência do solo, a presença ou não de água no subsolo, entre outras propriedades geológicas/geotécnicas do local estudado. Ela permite saber se o solo vai suportar as cargas envolvidas na construção e utilização de um prédio, por exemplo.
Não por acaso, ela é conhecida como radiografia do solo e deve ser realizada em conjunto, ou posterior, a um estudo topográfico. Em vários projetos, não é viável executar a sondagem sem as referências da topografia. Afinal, os furos para análise do subsolo precisam estar em pontos estratégicos do terreno.
Ainda segundo Thiago, o procedimento pode ser tratado como um sinônimo de investigação geotécnica do solo. Isso porque existe uma série de fases na sondagem. Para exemplificar, a sondagem à percussão (SPT – Standard Penetration Test) é um dos métodos de investigação do solo mais utilizados. Por meio deste ensaio de campo, obtém-se:
· informações tátil-visual dos solos presentes;
· existência ou não de nível d’água;
· estimativa da capacidade de carga dos solos.
O engenheiro explica que esses pontos estão dispostos na NBR 6484, que, de forma geral, é a norma de sondagem associada ao SPT. Ela é a norma do método de execução e informa como será realizada a sondagem: da perfuração ao relatório de análise de resultados. Além disso, ela mostra quais são os índices que precisam constar na folha de anotação de campo.
Há também outra norma, a NBR 8036, voltada ao reconhecimento de solos para edifícios e à programação de sondagens. Por isso, pode-se dizer que ambas são complementares. De acordo com Thiago, existem outros métodos de investigação de solo e a aplicabilidade de cada um depende da complexidade da construção envolvida e tipo de solo a ser investigado. Alguns métodos de investigação adicionais são:
· poços de inspeção;
· sondagens à trado;
· sondagem rotativa e mista;
· coleta de amostras indeformadas;
· ensaio CPT (Cone);
· ensaio DMT (Dilatométrico);
· ensaio PMT (Pressiométrico);
· ensaio de palheta (Vane Test).
A sondagem de solo e as obras de piso industrial
A sondagem em obras de piso industrial é regida pela norma que também se aplica às edificações, ou seja, não há nenhuma regulamentação específica nesse sentido.
Thiago chama a atenção para o fato de que, em relação ao dimensionamento de pisos, não há uma norma brasileira. Existem documentações internacionais, mas algumas delas são direcionadas a determinadas fases ou etapas do dimensionamento. Portanto, não é possível encontrar um documento único, que dispõe sobre todos os aspectos ou métodos de dimensionamento existentes.
Ainda nesse contexto, é comum a utilização de um documento técnico, que não pode ser definido como uma norma. Chamado Technical Report 34 (TR34), ele foi elaborado no Reino Unido e aborda o dimensionamento de pisos e pavimentos.
Sendo assim, para a construção de piso industrial, o procedimento mais comum de sondagem de solo, é do tipo SPT, essencialmente o mesmo método de investigação usado em outras situações. Embora essa sondagem seja muito comum, o ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC) ou California Bearing Ratio (CBR) também é bastante utilizado para determinar a capacidade de suporte do subleito local e sua expansibilidade.
Em poucas palavras, ele determina a relação entre a pressão necessária para penetrar um pistão cilíndrico padrão em um dado corpo de prova e a pressão necessária para penetrar em uma brita padronizada. Dessa forma, é possível verificar qual o percentual de resistência o solo ensaiado representa em relação a brita. Este ensaio recebe este nome porque foi desenvolvido pelo Departamento de Estradas da Califórnia, nos Estados Unidos.
A execução da sondagem de solo
Segundo Thiago, as normas indicam as abreviações dos termos que serão utilizados e o número de fontes que devem ser investigadas. Dependendo da área projetada, pode ser necessário medir dois pontos a cada duzentos metros por meio da perfuração, para a coleta e análise do material.
O processo começa com a escavação manual, até a profundidade de um metro. A partir desse primeiro metro, as operações de perfuração mecânica são iniciadas. Recorre-se a um amostrador que é cravado no solo e a um peso padrão, explicitado pela norma, que precisa cair em queda livre, de uma altura padronizada.
Feito isso, verifica-se, a cada quinze centímetros, o número de golpes necessários para o peso padrão penetrar a camada de solo. Totalizando quarenta e cinco centímetros, desconsidera-se os primeiros quinze centímetros e soma-se o número de golpes necessários para a penetração dos últimos trinta centímetros. Este valor será utilizado para a estimativa da capacidade de suporte do solo.
Durante a cravação, é possível realizar uma análise tátil-visual do material coletado, além de futuros ensaios laboratoriais para determinação das propriedades geológicas/geotécnicas locais.
Thiago comenta que, sem um método de investigação de solo, projetar se torna uma tarefa ainda mais complexa, que pode gerar problemas estruturais. Em um prédio, isso causaria complicações graves na estrutura; no piso, a fissura e o recalque despontariam como gargalos operacionais. Em alguns casos, parar a operação durante uma semana significa um prejuízo de milhões de reais para o investidor, por exemplo.
Enfim, é inegável que a sondagem de solo é um procedimento de enorme relevância não só em obras de piso industrial, mas também em outros contextos, visto que exerce grande influência no andamento e nos resultados obtidos.
Se você gostou do texto, não deixe de conferir nosso artigo sobre o planejamento e a execução da concretagem de piso industrial!