Belgo Arames
Publicado por: Belgo Arames
Uso de gabiões no manejo de microbacias: exemplo e aprendizado Boliviano

Cada vez mais e com mais frequência, as questões ambientais têm exigido respostas e tratamento rápido por parte dos governos. Entre elas, o controle de enchentes têm sido bastante discutido, devido aos impactos que as inundações podem causar tanto para populações ribeirinhas quanto para as próprias cidades.

Na Bolívia, existem bons exemplos no contexto de controle de enchentes como, por exemplo, o Plano Nacional de Cuencas — em português, Plano Nacional de Bacias Hidrográficas —, como uma ferramenta governamental para priorizar a questão de governança da água.

Esse documento é visto como uma das práticas de gestão mais inovadoras da engenharia civil e serve como exemplo para diversos países. Nós conversamos com o engenheiro Paul Elias, da Prodac Arames do Peru, que nos contou um pouco mais sobre o Plano Nacional de Bacias Hidrográficas da Bolívia para controle de enchentes. Confira!

O uso de gabiões no manejo de microbacias

Por se tratar de ferramentas leves, fáceis de transportar e instalar, os gabiões são muito utilizados na engenharia civil, principalmente na gestão de bacias hidrográficas. São estruturas constituídas por malhas metálicas hexagonais que formam uma espécie de gaiola. Então, são preenchidos com pedras — em geral, granito, basalto ou seixo.

Micro barramentos ou pequenas barragens à montante de micro bacias hidrográficas podem ser construídas em estruturas de gabiões, retendo águas pluviais de forma escalonada, minimizando os efeitos de elevação do gradiente hidráulico a jusante. Isto contribui para aumento da infiltração, conservação da água e solo, além de proteger as áreas baixas de fluxos mais intensos e devastadores por ocasião de precipitações marcantes. Por este conceito, faz-se vários micro barramentos nas porções mais elevadas ao invés de se optar por construção de grandes obras nas zonas mais baixas. Práticas milenares cujo princípio pode nortear obras da atualidade.

A grande vantagem dos gabiões é que eles são estruturas flexíveis que se adaptam mais facilmente aos recalques que podem ocorrer no solo. Assim, se evita qualquer problema de fissuras que uma parede rígida de concreto possa apresentar.

Além disso, por ser uma solução simples, não requer necessariamente uma mão de obra muito especializada, o que faz com que a instalação de gabiões gere empregos para os moradores das comunidades locais. Para os trabalhos construtivos de estruturas de gabiões pode-se contratar e treinar moradores locais com conhecimento do meio ambiente e um comprometimento maior do que aqueles que não moram no local ou que não vão se beneficiar com a obra.

Segundo o engenheiro civil, um ponto que chama bastante atenção no uso dessas estruturas é que em termos de meio ambiente, os gabiões são soluções bastante sustentáveis. “É uma intervenção humana que não é agressiva como as grandes obras, o que a torna uma peça de engenharia tecnicamente perfeita“, explica Elias.

Além disso, algumas outras vantagens apontadas pelo especialista são:

  • sustentabilidade, tendo em vista que a solução sustentável se integra com o ambiente ao longo do tempo;
  • custo, pois é muito mais barata do que outras soluções;
  • logística extremamente simples e que não é agressiva;
  • valorização do conhecimento dos moradores locais;
  • geração empregos para as pessoas nas comunidades;
  • preservação do meio ambiente da cultura do lugar.

Durabilidade

Essa é uma vantagem que temos de realçar, porque a estrutura dos gabiões apresenta grande durabilidade, podendo durar por mais de cinquenta anos ou, até mesmo, ser uma obra definitiva. Isso porque essas estruturas são constituídas por uma trama de arame recoberto com uma liga de zinco e alumínio, oferecendo uma alta resistência à corrosão.

Por estarem em contato com o ambiente, acrescenta-se também um revestimento de PVC que, além de auxiliar na formação da barreira contra corrosão, serve como uma proteção contra o impacto.

O Plano Nacional de Cuencas da Bolívia

A Bolívia é um dos países com maior disponibilidade de recursos hídricos do mundo por estar localizado na bacia do Prata e na bacia Amazônica, além de estar situado na parte inferior do sistema hídrico do Titicaca. Essas características conferem uma infinidade de sistemas hídricos, nos quais podemos ver:

  • neve eterna;
  • rios;
  • lagos;
  • lagoas;
  • zonas úmidas;
  • aquíferos.

Até 2006, nenhum desses meios eram promovidos pelo governo da Bolívia, pois não havia uma percepção nacional da importância de gerar e cuidar desses recursos hídricos. Contudo, com a chegada de um novo governo em 2006, foi lançado o Plano Nacional de Cuencas como parte do pacote do Plano Nacional de Desenvolvimento.

Entre outras coisas, o documento buscava o fortalecimento do papel do Estado na gestão dos recursos naturais e resultou na criação de um Ministério de Águas que incorporou três subsetores: irrigação, água potável e bacias.

Com o sucesso do programa, em 2013 foi lançado uma segunda versão do Plano Nacional de Cuenca, que consolidou a política do Estado Plurinacional da Bolívia. Esse plano teve sua programação definida para os próximos cinco anos (2013 a 2017), mas posteriormente foi estendida até 2020.

O Plano Nacional de Bacias Hidrográficas define a bacia como um espaço de vida. Em torno desse conceito, a gestão integrada dos recursos hídricos e a gestão integrada das bacias foram estabelecidas, priorizando:

  • o consumo humano;
  • a produção agrícola;
  • a necessidade de flora e fauna.

No Plano Nacional de Bacias Hidrográficas, essas três diretrizes são tomadas e trabalhadas de forma integrada com o objetivo geral de beneficiar a população.

As lições que o Brasil pode aprender com esse exemplo

Embora, o Brasil tenha uma geologia muito diferente da Bolívia, nós podemos aprender muito sobre os benefícios da gestão integrada dos recursos hídricos. “Desenvolver os recursos hídricos e desenvolver um plano benéfico para a população é muito importante para evitar a escassez de água e, consequentemente, a violência que isso gera”, defende o engenheiro.

Na Bolívia, entre janeiro e abril de 2000, devido à privatização do abastecimento de água municipal, houve uma série de protestos em Cochabamba que ficaram conhecidos como Guerra da Água. A lei marcial foi declarada e houve um morto, cento e vinte e um feridos e cento e sessenta e dois presos.

No Brasil, há relatos de diversas ocorrências por disputas de água, além de conflitos decorrentes da privatização da água. Ademais, metade dos brasileiros não tem acesso a esgoto, e cerca de trezentos e vinte e cinco milhões à água tratada.

Esse cenário, demonstra a importância de um plano como o criado pela Bolívia. Investir em uma política de gestão da água é essencial para o país, não apenas para o seu desenvolvimento, mas também para evitar situações como a que aconteceu na Bolívia e em outros países, como Líbia, África Central e África Subsaariana.

Como vimos ao longo do texto, entre as diversas alternativas para o controle de enchentes e a gestão de microbacias, a utilização de estruturas de gabião é uma das opções mais viáveis, pois garante o desenvolvimento sustentável e com medidas responsáveis. Além disso, é uma forma de o governo oferecer à sociedade um ambiente de crescimento socioeconômico e um plano de monitoramento e controle de bacias.

Gostou de aprender mais sobre o Plano Nacional de Cuencas da Bolívia? Então não deixe de compartilhar este artigo com seus colegas de profissão!

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