Todo pecuarista que cria seu gado solto no campo precisa ter um conhecimento mínimo sobre botânica, tanto para escolher o melhor pasto para o rebanho quanto para evitar a proliferação de plantas tóxicas para bovinos.
As ações de manejo da propriedade estão incluídas no conjunto de boas práticas de sanidade animal, já que a ingestão de determinados tipos de vegetação provoca danos diversos à saúde animal. Dependendo da quantidade consumida ou do nível de toxicidade da espécie de planta, as consequências podem ser fatais — essa é, inclusive, uma das principais causas de perdas de animais adultos no país.
Já foram registradas mais de 50 espécies de interesse toxicológico para a pecuária brasileira, mas listamos neste artigo as principais plantas tóxicas para bovinos que existem no país. Acompanhe!
Plantas nocivas que causam problemas gastrointestinais em bovinos
Os mamíferos herbívoros são bastante sensíveis às substâncias tóxicas, pois o pH ruminal não inativa as enzimas hidrolíticas das plantas, como acontece no estômago dos monogástricos. Por conta disso, algumas espécies de plantas podem levar à intoxicação aguda do animal. Veja a seguir!
1. Sorghum vulgare — sorgo
Encontrado em todas as regiões do Brasil, o sorgo contém ácido cianídrico e, dependendo da sua condição vegetativa, pode apresentar quantidades tóxicas da substância. Entre os sinais clínicos dos animais contaminados estãodepressão, dispneia, excitação, lacrimejamento, salivação, tremores musculares, incoordenação, dilatação de pupilas, ulcerações generalizadas com desprendimento da pele, anorexia, decúbito e convulsões.
Nos casos mais graves de intoxicação, o gado apresenta edema acentuado da barbela, anemia, notória perda de peso, bilirrubinúria, hemoglobinúria, icterícia generalizada, queda de pelos e aumento da temperatura corporal.
2. Manihot spp. — maniçoba, mandioca-brava
A mandioca-brava é uma planta nativa do Brasil e é encontrada em todo o país, principalmente no Norte e no Nordeste. Por ser resistente à seca e rica em proteína, ela é amplamente utilizada na alimentação de rebanhos, mas pode ser tóxica devido aos glicosídeos cianogênios que, ao sofrerem hidrólise, produzem ácido cianídrico. As variedades bravas apresentam uma concentração ainda maior dessa substância, que leva aos sintomas citados no tópico acima.
Vale destacar, contudo, que existem técnicas simples para fazer com que o ácido seja volatilizado, tais como quebrar as raízes manualmente ou em uma máquina específica e espalhá-las em um local sombreado por 12 horas.
3. Senecio spp. — tasneirinha, maria-mole, flor-das-almas
A tasneirinha causa problemas frequentes no Centro-sul do país, onde costuma alastrar-se pelas plantações e ser ingerida acidentalmente pelo gado por meio da silagem. Ela tem um princípio ativo hepatotóxico e causa lesão crônica irreversível nos bovinos, além de gerar espongiose no sistema nervoso.
Os sintomas clínicos mais comuns são agressividade, descoordenação, diarreia, fezes com sangue, falta de apetite, paralisia ruminal, prolapso retal e alto ritmo cardíaco.
Espécies que causam problemas no sistema nervoso do gado
As plantas tóxicas para bovinos também são responsáveis por danos no sistema nervoso do gado. Confira!
4. Ricinus communis — mamona, palma-de-cristo, carrapateira, regateira
A mamona pode ser encontrada em todo o Brasil, mas a intoxicação natural tem sido observada no Nordeste, em decorrência da fome dos animais em períodos de seca. As partes nocivas da planta são as folhas — que apresentam ricinina, substância responsável por sintomas neuromusculares — e as sementes — que, além da ricina, contêm riboflavina, óleo de rícino e ácido nicotínico.
Quando o gado ingere as folhas, os sintomas são inquietação, necessidade de deitar depois de certa marcha, desequilíbrio, sialorreia, tremores musculares, eructação excessiva e atonia ruminal. Quando consomem as sementes, podem ser notados sinais como incoordenação, diarreia sanguinolenta, anorexia, dores abdominais, insuficiência respiratória e insuficiência renal aguda.
5. Prosopis juliflora — algaroba, algarobeira
A algaroba foi introduzida no Nordeste na década de 1940. Ela tem crescimento rápido, produz frutos e é responsável pela chamada “cara torta” em bovinos, por conta do desvio lateral da cabeça que os animais fazem para manter o alimento na boca.
Os sintomas são mais evidentes durante a mastigação, característicos da insuficiência dos nervos cranianos. Juntamente a torção da cabeça, pode-se observar nervosismo, relaxamento da mandíbula, movimentos involuntários da língua, bocejos, salivação, dificuldades para deglutir, mastigação continuada, atonia ruminal, anemia e perda de peso.
A intoxicação acontece quando a planta representa mais de 60% da alimentação diária por um longo período e, por isso, recomenda-se oferecer até 30% das vagens na dieta do gado por até 6 meses.
Plantas tóxicas para bovinos que causam morte súbita
As plantas tóxicas que causam morte súbita em bovinos são as que têm maior interesse pecuário. Elas são responsáveis por cerca de metade dos óbitos de animais em decorrência do seu consumo.
As substâncias tóxicas agem diretamente no coração e no sistema nervoso, levando os animais a morrerem de insuficiência cardíaca aguda. As famílias botânicas que englobam as plantas mais perigosas para o gado são: Rubiaceae, Bignoniaceae e Malpighiaceae.
6. Palicourea marcgravii — erva-de-rato, café-bravo, cafezinho, erva-café, roxa, roxinha, vick
Essa é a planta mais perigosa e a que mais mata bovinos no país. É encontrada em todo o território nacional — exceto no Sul e no Mato Grosso do Sul — e tem alta ocorrência na região amazônica. A erva-de-rato não tolera exposição ao sol, se desenvolve em terras firmes com alta pluviosidade e cresce em capoeiras, beira de matos e em pastos recém-formados (áreas de mata transformadas em campos de criação).
Devido a sua alta palatabilidade, os bovinos a ingerem em qualquer período do ano, mesmo em pastos com forrageira abundante. Com efeitos cumulativos, suas folhas e frutos são altamente tóxicos, sendo que a dose letal é de 0,6 g/kg, isto é, basta que um boi de 300 kg ingira 180 g para se intoxicar.
Sintomas como desequilíbrio do trem posterior, tremores musculares, taquicardia, dispneia, queda em decúbito esterno-abdominal e depois lateral, mugido e convulsão podem ser observados de 5 a 24 horas após o consumo. A partir do início dessas manifestações, o animal pode morrer em um intervalo de 15 minutos.
7. Mascagnia rigida — timbó, tingui, salsa-rosa, rama-amarela, quebra-bucho, suma-branca ou suma-roxa
Essa é a planta tóxica que mais causa mortes no Sudeste e no Nordeste do país e, pelo fato de ter boa palatabilidade, também é ingerida durante o ano todo, não sendo necessárias condições de restrição alimentar para que o gado a consuma.
Os sintomas clínicos são relutância em caminhar, tremores musculares, queda, convulsões, alterações cardíacas e neuromusculares e, em poucos minutos, morte. As doses letais variam de 15 g/kg a 94 g/kg de folhas da planta ingeridas.
Uma questão importante que foi observada no campo é que a morte súbita parece estar associada à movimentação dos bovinos. Por isso, deve-se restringir os movimentos dos animais que ingerem M. rigida para aumentar a chance de recuperação.
Evitando a ingestão de plantas tóxicas pelos animais
A vastidão de terra e a incrível diversidade vegetal brasileira podem dificultar o pecuarista a manter seu gado afastado das plantas tóxicas, mas algumas ações são bastante eficientes para garantir a segurança do rebanho.
Como a maioria dos casos de intoxicação acontece pela escassez do pasto na época da seca, pela superlotação das pastagens e pelo jejum durante o transporte, é preciso destinar maior atenção ao manejo alimentar, adotando medidas como o pastejo rotacionado e a suplementação da dieta. Além disso, é fundamental fazer a limpeza dos pastos (evitando o campo sujo) para eliminar as plantas invasoras.
Como você pôde ver, existem diferentes espécies de plantas tóxicas para bovinos que representam grande risco à saúde do rebanho. Mas se o seu campo estiver bem cuidado, com pasto farto e vigoroso e com áreas bem cercadas, é certo que os animais se manterão afastados das plantas nocivas e não sofrerão intoxicação ao se alimentarem.
Além do cuidado com a propriedade, outras atividades são essenciais para a manutenção da saúde dos animais. Saiba, agora, quais são as boas práticas de vacinação de bovinos!