Você realmente sabe como fazer o manejo de bovinos da melhor forma possível? Assim como as estruturas e os tipos de pastagem utilizados em sua criação, algumas técnicas podem otimizar bastante essa atividade e gerar um desempenho mais satisfatório.
Como se trata de um assunto muito importante para quem trabalha com pecuária, preparamos este artigo especial sobre o tema. Durante a leitura, você entenderá a importância do manejo correto, os impactos que ele exerce e as melhores técnicas para executá-lo. Aproveite o conteúdo!
O que é e qual a importância do manejo de bovinos?
Para dar maior profundidade ao texto, entrevistamos Mateus Paranhos. Ele é professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da UNESP e especialista em manejo racional de bovinos.
Paranhos resume o manejo racional como uma “ação com conhecimento”, isto é, uma prática que se vale da inteligência e da informação embasada para se concretizar. Nesse caso, em específico, é fundamental conhecer o comportamento dos animais, tendo em vista que eles são seres com atitudes e reações específicas. Além disso, “quando você não tem conhecimento sobre o comportamento dos animais, fica muito mais difícil controlá-los”, explica o docente.
O comportamento animal, tão relevante em estratégias como o semiconfinamento, é um fator-chave para realizar manejos eficazes. Com isso, cria-se um ambiente de trabalho mais tranquilo — para as pessoas e para os animais. De acordo com o especialista, isso é importante para:
- diminuir o risco de acidentes entre animais e pessoas;
- reduzir danos às instalações;
- fazer um manejo mais eficiente em todos os sentidos (tempo, custos, produtividade etc.).
Paranhos vai adiante e diz que “o respeito ao animal talvez não seja nem a parte mais importante do manejo racional”. Afinal, o respeito a si mesmo deve vir em primeiro lugar, já que existe bastante risco para as pessoas que trabalham com pecuária. Há muitos acidentes em fazendas e alguns deles são fatais, infelizmente.
Como ele impacta na produtividade e no lucro?
Mais do que exigir recursos e técnicas adequadas, o manejo racional de bovinos demanda uma mudança de postura e mentalidade por parte de quem trabalha e/ou empreende no setor. Esses esforços, porém, tendem a ser recompensados.
Como se não bastassem os outros efeitos positivos, o manejo racional é capaz de aumentar o lucro de sua produção. “A implementação dele é custosa no sentido de convencimento, de mudança de atitude, mas, em termos financeiros, não custa nada — requer apenas treinamento e supervisão”, explica Paranhos.
É bom lembrar que qualquer acidente com um animal na sua propriedade implica uma perda. Uma vaca estressada no momento da inseminação tem um grande risco de não ficar prenha, por exemplo. A mortalidade de bezerros, pragas na pastagem, animais machucados etc. denotam a ineficiência do sistema de criação adotado.
Em poucas palavras, o manejo racional melhora a eficiência da criação e, consequentemente, leva a um desempenho financeiro melhor. No próximo tópico, explicaremos quais são as melhores técnicas e quais os primeiros passos a serem dados.
Quais são as técnicas de manejo racional e como colocá-las em prática?
Antes de tudo, tenha em mente que todo processo de manejo do gado — do nascimento ao abate — pode ser racionalizado. Uma das preocupações, que hoje é definida por uma normativa do Ministério da Agricultura, é que o próprio abate seja feito de forma com que o animal sofra menos: é o abate humanitário, previsto na legislação brasileira.
Por isso, o primeiro passo a ser dado é desfazer a visão errada de que o manejo racional só se aplica ao momento em que o gado está no curral e é preciso vacinar, pesar, inseminar e assim por diante. Como explica o professor da UNESP, “o manejo racional começa com o nascimento do bezerro. Todas as rotinas da fazenda que implicam algum manejo, no curral ou não, precisam ser feitas da maneira menos traumática para o gado e para as pessoas”.
Confira, a seguir, quais cuidados adotar e quais técnicas utilizar em determinados momentos da criação.
1. Nascimento
Geralmente, as práticas de manejo com bezerros recém-nascidos são bastante brutas. Muitas vezes, os animais são arrastados e lançados ao chão. Idealmente, “ele deve ser colocado no chão com bastante cuidado. O profissional não pode apoiar o peso do corpo, o joelho ou o pé em cima do bezerro. Há uma forma correta de conter”, comenta Paranhos.
O mais indicado é não manejar recém-nascidos: faça-o de preferência após 6 horas do nascimento. Depois, contenha-o segurando pela virilha e pescoço. Você pode levantá-lo um pouco, apoiando-o na perna e fazendo com que escorregue até o solo.
2. Desmama
A técnica usual de desmama coloca a vaca em um pasto longe do bezerro. Contudo, é perceptível que eles não querem ficar longe um do outro, porque ainda têm um vínculo. A partir disso, inicia-se uma confusão. Os animais tendem a ficar estressados, se jogam contra as cercas e por aí vai.
Há uma técnica de manejo racional de desmama, que consiste em colocar o bezerro e a mãe lado a lado, separados apenas por um cerca. O especialista explica que esse método foi desenvolvido por um grupo da Universidade da Califórnia e, ao ser testado na realidade brasileira, proporcionou ótimos resultados. Em diversas aplicações, os animais deixaram de perder peso e passaram a sofrer menos com o estresse.
3. Vacinação
As mudanças na vacinação foram um grande desafio para os entusiastas do manejo racional. “Fizemos a vacinação em uma grande fazenda no Mato Grosso. Identificamos que a propriedade era tradicional em suas práticas: os gados ficavam em um tronco coletivo, no corredor, um atrás do outro — não havia controle. Então, propusemos que a vacinação fosse feita com um a um dos animais no tronco de contenção”, relata Paranhos.
Com essas técnicas, é viável estabelecer um controle maior sobre a sua própria produção, pois você sabe como o animal reagirá. Não é à toa que os resultados obtidos com algumas dessas técnicas racionais do manejo de bovinos foram surpreendentes e melhoraram o desempenho de várias criações. A identificação e outras atividades pecuárias também podem ser aprimoradas com conhecimento e informação.
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