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Belgo Arames
Publicado por: Belgo Arames
Entenda a formalização do setor de caprinos e ovinos

Por uma série de fatores, a formalização do setor de caprinos e ovinos ainda enfrenta muitos desafios no Brasil. O assunto tem recebido mais atenção, especialmente pelo crescimento de efetivo na região Nordeste, um aumento notório de 18,38% dos rebanhos de cabras e bodes e de 15,4% dos de ovelhas entre os anos de 2006 e 2017.

O consumo de carne, leite e derivados de caprinos e ovinos é significativo na região, e há uma tendência de aumentar nas demais partes do país. Principalmente em nichos de mercado mais específicos e promissores, como casas especializadas em produtos regionais e exóticos, com baixos teores de gordura, funcionais, etc. Nesse cenário, a formalização é essencial para abrir novas oportunidades aos produtores nacionais.

Para entendermos melhor como está o panorama da criação de caprinos e ovinos no país e as perspectivas para o setor, conversamos com Aurora Gouveia, médica-veterinária especializada em Medicina Veterinária Preventiva e em Microbiologia e Infectologia. Boa leitura!

O panorama da formalização do setor de caprinos e ovinos

O Nordeste abriga cerca de 90% dos rebanhos de caprinos e 60% dos de ovinos no país, evidenciando todo o potencial produtivo da região, que comporta 92,5% da área semiárida do Brasil. Esse fato não é mera coincidência, já que a rusticidade e a adaptabilidade desses animais são conhecidas há muito tempo.

Seria natural esperarmos que a formalização do setor fosse mais concreta nesses estados, concorda? Porém, não é o que acontece (pelo menos por enquanto), como nos explica a experiente especialista.

A professora Aurora nos conta que os setores produtivos são bastante discrepantes, um está mais avançado do que o outro. A começar pelas diferenças entre os objetivos de criação das próprias espécies e a importância que elas têm em cada estado.

Desses mais de 90% do rebanho de caprinos que estão no Nordeste, a maioria é para a produção de carne e subsistência. Ou seja, a formalização é muito complicada e praticamente inexistente porque ela está ligada a pequenos agricultores geograficamente dispersos, dificultando a logística de cargas. Em contrapartida, nas demais regiões, a produção é mais tecnificada e comercial, voltada para o corte e para o leite.

“O Sudeste, por exemplo, é fortíssimo em caprinocultura leiteira como agronegócio. A formalidade do setor é gigantesca. Você tem produtores que passam por inspeção federal, estadual, municipal. Ou seja, o caprino leiteiro na região Sudeste é absolutamente formalizado, adequado, moderno, tecnificado”, comenta a professora. E a partir de 2010, o Sudeste vem também se destacando em ovinocultura leiteira juntamente com os estados do Sul, como agronegócio ou na agricultura familiar formal.

Vale realçar a colocação dos maiores produtores de caprinos no país em efetivo animal: Bahia, Piauí e Ceará. Quanto aos ovinos, os maiores produtores em efetivo animal são a Bahia, o Rio Grande do Sul (com destaque para lã e carne) e o Ceará.

Entretanto, como a especialista nos explicou, os estados que são os maiores produtores de caprinos e de ovinos do Brasil ainda precisam passar pela formalização para adentrarem com força no mercado nacional e aproveitarem as oportunidades do setor.

A origem e os desafios da formalização

A formalização da cadeia produtiva de caprinos e ovinos está ligada à crescente demanda global por alimentos, especialmente os que têm características distintas. Além disso, também está relacionada à padronização de abatedouros especializados no abate dessas duas espécies.

Mas claro que não é só isso. A professora Aurora resume categoricamente o que significa um setor estar formalizado: “É estar dentro da norma e da lei”. E continua: “Os selos e os certificados que encontramos nas embalagens de alimentos dizem que o produto foi inspecionado pelo serviço oficial e produzido seguindo as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”.

Logo, se há uma demanda cada vez maior pela carne, pelo leite e derivados de caprinos e ovinos, é evidente a necessidade da formalização no setor. A especialista nos explica, entretanto, que a situação é complicada, pois a informalidade da atividade não está em toda a cadeia produtiva.

O setor de beneficiamento e o de distribuição, por exemplo, estão formalizados, afinal, não é possível negociar e vender alimentos para centros comerciais sem estar legalizado segundo as normas vigentes. Porém, a indústria não consegue formalizar o abate do ovino e do caprino, porque depende de escala (volume), padrão e regularidade de produção, e os produtores acabam vendendo seus produtos de maneira informal.

Já no setor leiteiro, a grande indústria tem dificuldade de comprar o leite de cabra por dois motivos, como diz a professora Aurora: “Ou o produtor já produz muito e beneficia o leite na sua própria agroindústria (verticalizando o setor), ou, se for pequeno produtor (que não tem volume para ter uma agroindústria própria), tem dificuldade de fazer esse leite chegar à indústria, já que é muito pouco”. Lembrando da possibilidade de estocar o leite congelado para acumular o volume que viabilize o transporte.

As oportunidades no setor de caprinos e ovinos

Apesar dos desafios para a formalização de caprinos e ovinos no Brasil, o momento é de oportunidade. Primeiro, pela própria demanda por alimentos saudáveis e que tenham um sistema mais produtivo e sustentável. Depois, pelos nichos de mercado que estão surgindo ano a ano.

Como dissemos no início do post, há uma crescente procura e valorização pelos produtos regionais, bem como por casas de carnes e boutiques especializadas que tenham variedade e excentricidade para oferecer aos consumidores. Além disso, é possível fomentar ações governamentais para que o leite e a carne desses animais sejam incluídos nas merendas escolares. Lembrando, entretanto, que o ideal não é ficar dependente das compras governamentais.

Historicamente, a região Sul tem mais destaque à produção de lã. Porém, a partir de 2000 a região também adaptou o sistema para a produção de carne de qualidade, seguido pelos estados da região Sudeste. A partir de 2010, iniciou-se a produção com rebanhos ovinos leiteiros no Sudeste. Já no Nordeste, os ovinos mantêm a sua alta aptidão para o corte, desde sempre manejados para tal.

Além do setor alimentício, a criação de cabras e ovelhas ainda encontra grandes oportunidades no segmento de calçados e vestuários. A pele caracteristicamente macia dos caprinos recebe ainda mais valorização no mercado.

O Brasil tem capacidade para suprir a demanda interna e, também, para gerar excedentes — todos os produtos de origem caprina e ovina têm grande potencial para serem exportados para países com mercados exigentes. Contudo, para que isso aconteça, a formalização do setor é uma condição sine qua non, ou seja, sem esse processo, o mercado externo não pode ser atendido.

Outro ponto importante a ser destacado é que, para que os produtos (sejam eles quais forem) tenham melhor aceitação no mercado, é preciso rever as práticas de manejo de caprinos e ovinos nos locais de pouca formalização.

Nesse sentido, é importante alcançar o bem-estar animal para o aumento da produtividade: o manejo dos animais com o uso adequado do cercamento inteligente facilita e agiliza o trabalho mas mantém as condições de bem-estar. Mas é necessariamente obrigatório que o produtor cumpra as normativas sanitárias, de rotulagem e operacionais para formalizar a sua marca.

Às vezes, pode ser apenas uma decisão acertada na hora de escolher o tipo de cercamento. Uma tela inteligente pode apresentar muitas vantagens quando comparada a um arame farpado, por exemplo.

O papel das cooperativas e associações

Professora Aurora ainda nos fala sobre o papel das cooperativas e associações de produtores nessa questão da formalização do setor de caprinos e ovinos. Ela comenta que, por essência, os três estados da região Sul são cooperativistas, com uma ação mais eficiente.

Então, “as cooperativas reúnem muitos pequenos produtores, porque é a característica básica dessa organização. Ela faz o papel da agroindústria rural: vai recolher o produto desse pequeno produtor que não consegue levar o leite direto à indústria. Se ele participar de uma cooperativa, soma com os demais e consegue alcançar a indústria como se fosse um criador só”, explica.

Nos outros estados, o cooperativismo é tímido. Isso acontece, entre outras razões, devido ao baixo volume e grandes distâncias entre as unidades produtivas, dificultando a logística, do ponto de vista de viabilidade econômica e operacional. Isso acarretou na verticalização do setor (que comentamos acima), em que o criador de caprinos ou ovinos beneficia o seu próprio produto.

O associativismo, por sua vez, não participa da coleta nem da comercialização dos produtos, mas atua institucionalmente pelo setor, estimulando o consumo e a produção, além de ser a voz dos produtores perante o município e o estado para reclamar os seus direitos, rever normas, fiscalizações etc. “A associação promove e protege”, finaliza a professora Aurora.

Como você viu, a formalização do setor de caprinos e ovinos ainda é fragmentada no país. Porém, as oportunidades para os produtores são grandes e promissoras, necessitando de uma melhoria no processo de criação desses animais — da cria até o abate — para deslancharem no mercado.

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