Vacas pastando
Belgo Arames
Publicado por: Belgo Arames
Estresse térmico em gado leiteiro: como ocorre e como evitar

O estresse térmico é um dos principais motivos que impactam a produção de leite nas propriedades rurais. Afinal, em um país tropical, a questão do clima pode ser desafiadora para manejar esses animais e proporcionar não só um bom volume produtivo, mas também gerar leite de qualidade.

Para ajudar na compreensão dessas questões, a nossa especialista em gado leiteiro, Vanessa Teixeira, traz as melhores informações sobre o assunto. Confira a seguir e tire suas dúvidas.

O guia do bem-estar animal: tudo que você precisa saber para garantir a saúde dos seus animais

O que é estresse térmico?

Em primeiro lugar, é importante entender melhor o que é o estresse térmico. Podemos explicar isso a partir de um teórico da área (Yousef, 1985): “é um termo que indica os efeitos provocados na fisiologia do animal e consiste na soma das forças internas (metabolismo) e externas (ambiente) que atuam em um animal para causar aumento da temperatura corporal e gerar uma resposta fisiológica”.

Ele é caracterizado quando há uma taxa de aumento no calor do animal maior do que a de perda de temperatura corporal. E, com isso, ele sai da sua zona de temperatura termoneutra (considerada a zona de conforto térmico), o que provoca problemas na fisiologia do animal. Consequentemente, ele ficará em estresse térmico.

Isso vai fazer com que o animal precise gastar energia para debelar o estresse e, para isso, gastará a glicose, um nutriente importante para um melhor desempenho na produção de leite.

O que causa estresse térmico?

O estresse térmico pode ser causado tanto pelo calor quanto pelo frio. Mas, segundo nossa especialista, há uma dessas que é mais preponderante, até mesmo, pelas características do nosso clima.

Ela explica: “a gente tem um estresse térmico muito mais pelo calor do que pelo frio, exceto em algumas regiões específicas do Brasil, já que temos bioclimas bem distintos”. Ou seja, temperaturas e umidade muito altas, além de uma alta exposição solar, podem acentuar esse problema.

Segundo a especialista, há momentos em que as temperaturas oscilam para fora da margem da zona termoneutra (a oscilação de temperatura considerada normal). Nessa faixa, ele está em homeostase. Isto é, o animal não precisa direcionar grandes quantidades de energia para fazer a sua própria regulação térmica, nem para capturar, nem para dissipar calor.

Vanessa ainda ressalta que, para taurinos, a zona termoneutra está entre zero e dezesseis graus Celsius. Para zebuínos, essa faixa está entre dez e dezessete. Por fim, para os mestiços, a zona termoneutra é entre cinco e trinta e um graus Celsius.

Para que o animal esteja dentro da zona de conforto, é preciso considerar cinco fatores, segundo Vanessa:

  • estar livre de fome e sede, bem nutrido;
  • estar livre de desconforto, com instalações adequadas para as características da raça e sua fisiologia;
  • estar livre de eventuais dores, ferimentos e doenças e que esteja com manejo sanitário em dia;
  • estar livre para conseguir expressar o seu comportamento natural, ou seja, que tenham espaço para isso e que sejam estimulados a terem interações com ele e com outros animais;
  • estar livre de medo e angústia, longe de situação de violência.

Como identificar o estresse térmico?

Hoje as tecnologias permitem um monitoramento seguro sobre a produção leiteira, com grande precisão. Além disso, há aquelas que conseguem mensurar índices importantes que permitem identificar essas questões. Alguns aspectos são:

  • ofegação de rebanho;
  • temperatura do ambiente;
  • aumento de salivação;
  • redução de ingestão de matéria seca;
  • aumento da frequência cardíaca;
  • aumento da frequência respiratória.

A partir disso, é possível identificar se há alterações que precisam ser feitas na estrutura da criação de gado para promover maior conforto. Mas falaremos sobre isso mais à frente.

Quais os impactos do estresse térmico em gado leiteiro?

O estresse térmico em gado leiteiro pode ser altamente prejudicial para a produção de leite. Isso porque justamente as vacas de alta produção estão mais suscetíveis a essa condição. Afinal, a seleção genética faz com que elas aumentem o calor metabólico e, consequentemente, tenham menor capacidade de dissipação de calor.

Isso, inclusive, gera um grande desafio: se o seu rebanho é mais produtivo pela seleção Genética, os cuidados com estresse térmico deverão ser maiores, pois eles estarão mais suscetíveis a esse tipo de problema. Inclusive existem estratégias de melhoramento genético e de cruzamentos já voltados justamente para minimizar os efeitos do estresse térmico e para ter animais produtivos e resistentes para esse fator.

Alguns dos principais impactos, para animais com seletividade genética ou não, segundo Vanessa, são:

  • queda na produção do animal, porque, para ter maior disponibilidade de glicose no organismo para produção de leite, o corpo utilizará dessa glicose para debelar o estresse térmico, reduzindo a sua disponibilidade e consequentemente diminuindo ganhos produtivos. Segundo a especialista, “vaca, novilha ou bezerra, vão deslocar essa fonte de energia (glicose) que ia para o metabolismo de produção e crescimento e serão gastos para perder calor (estresse pelo calor) ou para se aquecer (estresse pelo frio)”;
  • aumento no hormônio cortisol, que é imunodepressor. Com isso, o animal tende a ter queda de imunidade e produção maior de radicais livres  (ficar mais susceptível a doenças e ter menos capacidade de prevenir-las), tais como retenção de placenta, mastite, pneumonia, diarreia tristeza parasitária, entre outras;
  • queda nas taxas reprodutivas, uma vez que vacas em situação de estresse não só manifestam menos cios, mas também emprenham menos e passam por mais perdas embrionárias.

Como garantir o bem-estar do gado leiteiro?

O estresse térmico no gado leiteiro pode trazer muitos prejuízos além da perda de produtividade. Por isso, é importante trazer as melhores práticas para garantir o bem-estar animal.

Algumas medidas que podem ser adotadas são:

  • promover áreas de sombreamento para permitir maior conforto e redução do calor para os animais;
  • deixar água de qualidade disponível para os animais;
  • gerar ambientes com boa aspersão e ventilação;
  • ter galpões dimensionados adequadamente para a quantidade de animais em sua propriedade;
  • ter cama de qualidade para os animais;
  • ter uma linha de cocho que não gere disputas entre animais e garantir uma alimentação completa;
  • ter o piso adequado;
  • manter o monitoramento da temperatura ambiente, dentro das instalações e em toda a propriedade.

O estresse térmico em gado leiteiro pode ser altamente prejudicial em diferentes frentes, desde a simples redução na produtividade de leite a, até mesmo, prejuízos graves gerados por doenças que afetem os animais. Por isso, esteja atento a todos os pontos que listamos aqui.

Promover um ambiente adequado para seu plantel será fundamental para não só garantir uma produção eficiente, mas também ter um leite de qualidade para ser comercializado no futuro. Esperamos que essas informações, com o suporte da nossa especialista, tenham ajudado você nessas questões.

E, como você viu, as tecnologias têm um papel essencial na produção de leite. Confira as principais delas e seus benefícios e aproveite para adotá-las em sua propriedade.

guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

    Últimos artigos

    Skip to content