O orçamento de obras na construção civil é uma das etapas mais relevantes durante o planejamento, concorda? Mas afinal, quais aspectos devem ser levados em consideração nesse estágio? Que cuidados devem ser tomados?
Para solucionar essas e outras questões pertinentes ao tema, entrevistamos Roberto Rafael Guidugli Filho, que é Engenheiro Civil, mestre em Engenharia de Produção, especialista em Engenharia Econômica e sócio-diretor da Meta Consultores.
Ao longo do texto, explicaremos a importância do orçamento na construção civil, as dificuldades recorrentes para elaborá-lo e a relação dele com a produtividade. Acompanhe até o fim e aproveite as informações!
Por que o orçamento de obras na construção civil é tão importante?
De acordo com o especialista, a relevância do orçamento se dá por conta de três exigências básicas feitas pela maioria dos clientes:
- cumprir o prazo;
- respeitar o orçamento;
- entregar a obra com a qualidade combinada.
Para atender a esses três pontos, o gestor de obra e sua equipe devem planejar bem o sequenciamento das atividades para cumprir o prazo e os custos orçados. Eles tem como responsabilidade coordenar as compras, contratar prestadores de serviços e alugar equipamentos, além de monitorar as tarefas, treinar os colaboradores e confirmar os resultados por meio de ensaios laboratoriais.
Portanto, considerando esse tripé inicial, o custo desponta como um ponto fundamental. Para gerenciar todos os gastos e tentar reduzi-los na medida do possível, isto é, sem perder a qualidade, é imprescindível contar com um orçamento bem detalhado, que servirá como referência para a obra.
Quando alguém diz que uma construção ficou mais cara do que o esperado, isso normalmente significa que o orçamento foi feito sem considerar fatores significativos, o gerenciamento deixou a desejar nesse sentido ou foram feitas mudanças de escopo solicitadas pelo cliente — de qualquer forma, há uma programação financeira que precisa ser respeitada.
Quais são os principais desafios para elaborar orçamentos?
Planejar obras não é uma tarefa simples — é necessário que o planejador tenha uma visão sistêmica da obra e o engenheiro orçamentista se aprofunde dentro da especialidade custos. Não à toa, atualmente, existem vários softwares usados pelos engenheiros orçamentistas a fim de otimizar essa atividade.
Segundo Roberto Guidugli, a parte mais incerta do orçamento é a que não pode ser vista, ou seja, é o que está abaixo da terra: acima dela, é possível fazer um orçamento repleto de detalhes, dependendo da forma como o projeto foi especificado. Desse modo, há como saber quais materiais usar, conforme as especificações apresentadas.
A dificuldade para lidar com o que está enterrado se dá, na maior parte das vezes, pela falta de conhecimento do terreno ou pela ausência de uma sondagem. Por causa dessas deficiências, algumas surpresas desagradáveis podem surgir, por exemplo:
- aparecimento de níveis de água abaixo da terra;
- pedras isoladas (matacões) que prejudicam a fundação;
- horizontes de solo que não foram detectados.
Tudo isso, na hora de fazer o corte de um terreno, tende a trazer riscos de deslizamentos e afins, o que pode exigir contenções e uma série de precauções, cujos custos podem impactar ainda mais o orçamento.
Ademais, é preciso ter muito cuidado com o custo-benefício e a qualidade dos materiais utilizados. De pouco adianta comprar uma lata de tinta por cem reais ou por trezentos, por exemplo, porque não é só o preço que importa nesse processo. Ambas são tintas, mas podem ter diferenças impactantes para a qualidade final da construção, afirma Roberto Guidugli.
Por isso, é preciso saber o que o cliente de fato quer e quais são as funções atribuídas a todos os materiais. Assim a obra pode prosseguir de acordo com os objetivos estabelecidos pelo projeto e se encaixar nos padrões exigidos pelas normas técnicas.
Como os softwares usados por engenheiros orçamentistas podem ajudar?
Não é segredo que as tecnologias estão promovendo uma verdadeira transformação no setor. Nesse contexto, os softwares de orçamento despontam como ótimas soluções para o controle de custos e de serviços.
Vale lembrar que os programas para elaboração de orçamentos já têm em seus bancos de dados os quantitativos dos recursos necessários para a execução de vários serviços. Se você vai fazer um metro quadrado de parede, por exemplo, basta informar a especificação dessa parede e o programa gera a composição completa dos recursos.
É importante mencionar também que essa composição está muito associada à produtividade na construção civil, afinal, um pedreiro pode construir dez metros quadrados de parede por dia, sendo que outro consegue fazer quatorze metros quadrados, com a mesma qualidade. A variabilidade de produção, que é normal nos canteiros de obra, afeta o orçamento.
É por isso que a construtora deve apurar e acompanhar seus índices. Ao serem inclusos nesses softwares, eles devem ser bastante realistas, afinal, se estiverem muito baixos, a obra ficará muito cara; caso estejam altos, pode haver imprecisões na execução.
Por que a mão de obra é tão relevante para o orçamento?
O impacto da mão de obra nos custos do projeto é inegável: ela representa, em média, 50% de um orçamento. Em edificações de luxo, ela cai para 40%, e os materiais sobem para 60%, em geral. Já em obras populares, essas porcentagens se invertem. De toda forma, só é possível obter esses percentuais com exatidão mediante um orçamento bem feito.
Roberto Guidugli explica que os maiores custos com mão de obra são os serventes — substituí-los por recursos tecnológicos é uma opção para reduzir o custo da obra. Uma grua, por exemplo, pode servir para executar o que seria feito por mais de dez serventes. No mais, ao comprar aço cortado e dobrado, economiza-se bastante com a mão de obra de armadores e serventes.
Portanto, é necessário fazer o cálculo de inclusão de tecnologia no canteiro de obras pensando no aumento da produtividade e da qualidade e, ao mesmo tempo, reduzindo custos.
Como fazer um bom orçamento?
Segundo Roberto Guidugli, os projetos são a base dos orçamentos e devem estar muito bem especificados. A partir disso, ocorre o cálculo dos quantitativos para informar quantos metros quadrados serão necessários para as fôrmas, quantos metros cúbicos de concreto serão usados e assim por diante. Se você estiver fazendo um prédio com estrutura de aço, por exemplo, o projeto precisa indicar quantos quilos de aço, os tipos de perfis a serem utilizados etc.
De posse desses dados, tudo é lançado no software e os orçamentistas entram em contato com os principais fornecedores para precificar os materiais e equipamentos.
Outro fator fundamental para um bom orçamento é que o orçamentista conheça a produtividade dos serviços, como comentado anteriormente. Contudo, nem sempre os valores da produtividade se aproximam da realidade. Para contornar essa situação, o orçamentista deve inserir nos custos indiretos os valores gerados pela Convenção Coletiva do Trabalho (CCT). Cada região tem sindicatos distintos, que geram CCT distintas.
Posteriormente, cabe ao profissional gerar as curvas ABC de serviço, materiais, equipamentos e pessoal, que consistem em uma hierarquização dos itens em função da participação percentual de cada um deles no total do orçamento, o que facilita bastante o gerenciamento dos custos. Dessa forma, com o Gráfico de Gantt e orçamento concluídos, é possível gerar o fluxo de caixa.
Por fim, o especialista ressalta que um bom orçamento de obras na construção civil é o que oferece mais confiança ao gestor de obra, à medida que as contas são feitas com segurança, sem dúvidas ou erros.
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