O confinamento do gado bovino é uma das etapas mais importantes da produção agropecuária. No entanto, como fazê-lo da forma adequada? Em que momento ele se torna necessário para os gados de corte ou de leite? De que formas ele interfere na produtividade?
Pensando nessas questões, elaboramos este texto. Durante a leitura, você encontrará as melhores práticas para esse momento tão relevante. Confira o artigo até o fim para saber mais a respeito e melhore o seu sistema de confinamento!
Quando devo realizar o confinamento do gado?
Em poucas palavras, podemos dizer que isso varia bastante de produção para produção. Vale lembrar que o confinamento nada mais é do que um sistema de criação. Nele, lotes de animais são fechados em espaços com áreas restritas próprias para essa finalidade.
Quando confinados, é fundamental alimentar o rebanho. Os alimentos, por sua vez, são fornecidos em linhas de cocho, e a água, em bebedouros.
Geralmente, o mais indicado é que esse processo seja realizado durante os períodos de seca. Afinal, nessas épocas, ocorre uma escassez na forragem para o pastejo dos animais. Portanto, torna-se mais estratégico, do ponto de vista do negócio, utilizar o confinamento para melhorar a qualidade da carcaça e otimizar a criação.
Ainda assim, fazer um bom confinamento requer bastante planejamento de quem trabalha na área, porque há uma série de cuidados para se tomar durante esse período. As especificidades climáticas do inverno brasileiro, por exemplo, podem causar alguns problemas indesejáveis para o gado confinado.
A forma de confinamento interfere na produção?
Os confinamentos bem planejados e executados de forma adequada originam animais mais fortes, sadios e robustos. Por consequência, há como obter melhores produtos e alcançar oportunidades de negócio mais vantajosas a partir desse tipo de prática.
Se empregado estrategicamente — e com foco no bem-estar dos bovinos —, a produção tende a ser bastante satisfatória. Assim, os lucros da atividade pecuária podem aumentar em períodos que normalmente haveria queda na produtividade, como o que ocorre em decorrência dos efeitos da entressafra e da seca no pasto.
Quais as vantagens de realizar o confinamento de bovinos?
Conforme mencionamos nos tópicos anteriores, a principal vantagem pode ser notada no ganho de produtividade que o confinamento pode trazer, já que o ressecamento do pasto pode comprometer bastante o desenvolvimento do gado.
De qualquer modo, essa vantagem só se tornará perceptível a partir de um bom planejamento, já que a estrutura, os materiais e as técnicas utilizadas são os grandes segredos por trás do sucesso de um confinamento bovino.
O bem-estar animal nos confinamentos pode ser um diferencial em sua produção. Em outubro de 2017, o site do Globo Rural publicou uma matéria que exemplifica isso muito bem. Na reportagem, são destacados os métodos usados por uma fazenda de Minas Gerais para tratar melhor o gado, para que ele cresça mais saudável e não sofra com doenças e afins.
A publicação ressalta que, durante o manejo, nenhum instrumento como ferrão ou bandeira é usado e os vaqueiros nem precisam tocar no gado. Além de um período de adaptação dos animais no pasto, alguns cuidados são tomados antes de submetê-los à vacinação e a outros estresses. A medida foi tomada como uma maneira de diminuir a incidência da pneumonia bovina no confinamento.
Como montar a infraestrutura do confinamento?
Montar a infraestrutura do confinamento do gado depende, é claro, da estrutura de sua fazenda e dos recursos disponíveis para desenvolver um sistema do gênero.
Espaço
Em relação ao espaço total, é possível tomar como parâmetro a medida de 15 m² por cabeça. Sendo assim, em um confinamento para 20 animais, por exemplo, teríamos uma área de 300 m².
Cocho e bebedouro
Feito isso, é preciso dimensionar corretamente o cocho, para cuidar da nutrição dos animais. Em média, são utilizados 50 cm de cocho por cabeça. Os tipos de cocho mais comuns são o “u” e o “j”, mas também existem outras opções no mercado.
O cocho de plástico é o preferido de muitos produtores por ser uma alternativa mais econômica. A capacidade dos bebedouros deve ser calculada considerando a razão de 10 L de água por cabeça — usar uma boia pode ser útil no sentido de evitar o desperdício de água.
Piso
Já o piso deve ser estruturado com o objetivo de não facilitar o acúmulo de lama, principalmente nas proximidades do cocho. Assim sendo, é válido aplicar concreto nessa região do confinamento. Saiba que a lama, principalmente quando a chuva resolve aparecer, contribui para a ocorrência de pododermatites.
Dessa forma, quando alguns gados aparentarem podridão nos cascos, estiverem mancando ou apresentarem sintomas semelhantes, é necessário recorrer ao tratamento veterinário para que não se estressem, caso contrário, a produtividade da criação seria prejudicada.
Cercado
As cercas rurais nos entornos do confinamento do gado também precisam de planejamento para que os bovinos não se machuquem nem fujam. Dependendo da região, os arames utilizados no cercamento podem ser o ovalado/liso, cordoalha remanga (três fios) e cerca elétrica.
Quais cuidados tomar no confinamento de gado bovino?
Levando em consideração que o bem-estar dos animais deve ser priorizado, é fundamental ficar de olho nas principais enfermidades que acometem os gados confinados.
No período o seco, as noites são frias e os dias são quentes em muitas regiões do Brasil. Em virtude desse fenômeno de inversão térmica, muita poeira é formada, podendo causar a temida pneumonia bovina. Quanto mais rápido o diagnóstico, mais efetivo é o tratamento.
Por isso, é imprescindível ter atenção aos sintomas nos animais. Nesses casos, os gados normalmente são tratados com antibióticos e anti-inflamatórios, mas somente um veterinário capacitado pode fazer o tratamento com precisão.
Animais que parecem cambalear ou demonstram falta de coordenação nos movimentos também precisam de avaliação imediata, já que podem sofrer da polioencefalomalacia.
Outros cuidados gerais são:
- fornecer água abundante e de qualidade;
- manter as baias raspadas para minimizar a formação de lama;
- monitorar a temperatura diariamente;
- fazer ajustes alimentares de acordo com as mudanças climáticas;
- analisar todos riscos envolvidos na criação;
- ser fiel às projeções e ao planejamento inicial.
Como garantir uma boa adaptação do animal no confinamento?
A adaptação do animal é uma das fases mais críticas do confinamento, uma vez que ele precisa lidar com uma nova rotina de alimentação, um convívio social diferenciado e um ambiente novo.
Todo gado que entra no confinamento consumia capim, de modo que seu organismo está fisiologicamente adaptado a grandes volumes de forragens. No rúmen desse animal, há a presença de diversas bactérias fibrolíticas, ou seja, que decompõem a fibra do capim. Por meio da degradação da celulose do vegetal ingerido, esses microrganismos produzem ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que são convertidos em glicose para dar energia ao animal.
Essa dieta baseada em forragens é muito ineficiente, pois gera perdas de energia ao bovino, sem que isso seja aproveitado em desempenho para ganho de massa. Por isso, no confinamento, introduzimos alimentos concentrados para elevar esse desempenho e o ganho de peso. Porém, isso modifica a microflora no rúmen do gado, antes acostumado a uma dieta baseada em forragem.
A nova dieta vai gerar um aumento de bactérias amilolíticas, elevando a produção de AGCC, e isso pode acarretar problemas metabólicos no animal, uma vez que a produção desses ácidos é maior do que suas papilas ruminais são capazes de absorver.
Por exemplo, a alta produção de ácido lático pode baixar o pH ruminal e causar acidose metabólica, um distúrbio que pode ocasionar uma queda superior a 11,8% no ganho médio diário (GMD). No acumulado, os pecuaristas podem ter grandes perdas financeiras.
O processo de adaptação como um todo pode levar de 14 a 21 dias para terminar. Isso, se conduzido corretamente para evitar perdas e potencializar os benefícios do confinamento do gado.
Um dos protocolos de adaptação mais utilizados no Brasil é a adaptação em degraus/escada com uma mistura entre alimento concentrado e forragem. Parte-se de uma proporção 55% (concentrado) e 45% (forragem), aumentando de 10% a 15% a cada 5 dias até atingir acima de 85% de alimento concentrado.
Como mencionamos, isso vai acontecer entre 14 e 21 dias, e esse período deve ser respeitado. E é preciso ficar atento a animais que não estão se adaptando, algo fácil de ser percebido.
É muito recomendado que ações de adaptação sejam feitas mesmo antes de introduzir o animal no confinamento. Semanas ou meses antes, pode ser feita uma suplementação com produtos específicos.
Assim, com o pré-confinamento, o gado fica mais bem-preparado para o cocho. Essas ações são estratégicas, entendendo qual lote seria mais beneficiado pela suplementação.
Quais os principais sinais de problemas em animais confinados?
Diversos problemas podem impedir que o produtor alcance o sucesso ou todo o potencial produtivo no confinamento do gado. Alguns desses fatores podem afetar tanto o animal de modo individual, quanto todo o lote.
Acidose
A acidose, com já tivemos a oportunidade de pontuar, é um problema ligado à produção de ácido lático. O animal fica sem apetite e, com o agravamento do quadro, pode levar à morte.
Ela é provocada normalmente quando não existe a introdução gradativa da ração nas primeiras semanas do confinamento, ou quando existe um aumento no consumo de grãos, por causa de uma alteração climática, por exemplo. Além disso, também ocorre em decorrência de silagens de pouca qualidade ou água contaminada.
Para controlar a acidose, é necessário reduzir de forma temporária o fornecimento do concentrado e misturar bicarbonato de sódio na ração. Também é possível usar alguns ionóforos para prevenir o quadro.
Timpanismo
O timpanismo ruminal também é conhecido como empanzinamento ou meteorismo ruminal. Trata-se de uma distensão grave do rúmen e retículo. É causado pelo acúmulo acentuado de gases que vêm da fermentação ruminal e da dificuldade do animal de expeli-los de forma natural. Em decorrência disso, inicia-se um quadro de problemas circulatórios e respiratórios, levando à asfixia e até a morte.
O timpanismo ruminal está ligado à ingestão de leguminosas, como trevos e alfafa, ou pela ingestão excessiva de grãos de fácil fermentação. Em bezerros, é causado pela ingestão excessiva de leite.
A principal forma de timpanismo em ruminantes é o timpanismo espumoso. Ocorre quando a presença de proteínas de leguminosas (saponinas e pectinas, por exemplo) elevam a viscosidade do líquido que fica no rúmen, formando uma espuma densa.
As bolhas dessa espuma permanecem durante bastante tempo sem se desfazer, gerando distensão no rúmen, que causa incômodo e dor abdominal no animal. Os sintomas são fáceis de perceber, pois o animal:
- não se alimenta;
- dá coices no ventre;
- emite grunhidos;
- respira pela boca;
- aumenta a frequência respiratória;
- saliva;
- estende o pescoço;
- distende os membros.
Em um quadro avançado, o animal cai com a cabeça distendida, língua para fora, boca aberta e olhos dilatados. Por fim, morre após algumas horas. Em casos assim, pode ser necessário aplicar métodos mecânicos para expulsar os gases. Há também medicamentos que ajudam no tratamento do timpanismo.
O timpanismo pode ser prevenido com a inclusão de carboidratos rapidamente fermentáveis, sempre em quantidades equilibradas e introduzidos aos poucos na dieta. Além disso, é importante ficar atento às plantas tóxicas para os bovinos.
Montas e brigas
No confinamento de gado, é possível que ocorram montas e brigas entre os animais. Se isso ocorrer com certa regularidade, ambos os animais podem ter problemas, seja por lesões, seja por excesso em gasto energético, gerando perda de desempenho produtivo. Em alguns casos, pode ser necessário retirar os animais do lote para reduzir as ocorrências e evitar perdas econômicas.
Como fazer a manutenção dos currais?
Os currais precisam ser construídos com base nas características da fazenda, tais como tipo de solo, clima e topografia. Um projeto inadequado e erros na execução podem promover o aumento nas chances de acidentes e o surgimento de lama e poeira que reduzem o bem-estar de humanos e animais. Isso, por fim, reduz o desempenho do gado.
Por isso, é preciso avaliar as condições de toda a estrutura, como bebedouros, cochos, pisos, cercas e abrigo, para que a manutenção seja feita corretamente. Observadas as irregularidades, ações de correção serão necessárias, como tapar buracos, trocar a cerca e retirar pedras e outros materiais que representam riscos para os animais.
Evite o acúmulo de poeira e lama nos pisos. Em pisos enlameados, por exemplo, os animais ficam mais tempo em pé, gastam mais energia para se movimentar e se alimentam menos. Essas condições podem reduzir o ganho de peso de forma considerável.
Por isso, assegure o bom funcionamento do sistema de drenagem, fazendo a limpeza dos currais de forma regular. Aplique cascalho em locais mais propensos à formação de lama. Onde for inevitável a formação, construa elevações no piso (conhecidos como solário).
Por outro lado, em épocas mais secas, é preciso dar atenção à formação de poeira e à baixa umidade. Sistemas com aspersores amenizam o problema. Ligue-os em momentos de maior movimento de animais e quando a umidade estiver baixa. Usar caminhões-pipa para molhar vias de acesso também ajuda a reduzir o problema.
O confinamento do gado bovino certamente é um desafio para os pecuaristas. Ainda assim, ele pode trazer muitas vantagens em termos de produtividade. Basta ter atenção às boas práticas ligadas a esse sistema que apresentamos aqui.
Quer saber mais sobre como montar um espaço de confinamento para o seu gado? Então, leia nosso próximo artigo sobre como criar uma estrutura de confinamento que gere lucros!