Você sabe o que é diferencial de base e por quais motivos esse indicador tem ganhado cada vez mais importância no mercado do boi gordo e da pecuária em geral? Então, que tal entender como calculá-lo e de que forma o resultado pode afetar o seu comércio?
Para tirar todas as suas dúvidas, conversamos com o especialista Felippe Reis, que é zootecnista e analisa de mercado da Scot Consultoria — empresa especializada em coletar, analisar e divulgar de informações estratégicas para o agronegócio. Acompanhe!
O que é o diferencial de base?
Em poucas palavras, “ele é a defasagem da cotação da arroba do boi gordo de determinada praça pecuária em comparação ao mercado do estado de São Paulo”, informa o especialista. São diversos os fatores que originam a diferença de preços entre os mercados — a situação de oferta e demanda, própria de cada região, é um dos pontos que ajudam explicá-la.
Apesar disso, para evitar qualquer tipo de confusão, é preciso ter em mente que o índice não serve para apontar movimentos futuros desse cenário, ou seja, ele não mostra se uma cotação subirá ou descerá, por exemplo. Conforme publicado pelo próprio Felippe no site da Scot, “o índice pode ser usado quando o produtor negociar na bolsa (B3) ou direto com o frigorífico por meio do contrato a termo”.
Dessa forma, um pecuarista do Paraná que deseja garantir o preço mínimo de uma boiada que será vendida em novembro deve considerar a cotação do contrato desse mês no mercado futuro. Como essa precificação é baseada nas referências da praça de São Paulo, é preciso considerar a média do diferencial de base em novembro.
Por que o valor é diferente em São Paulo e o estado é a referência?
Esse “é o grande centro consumidor do Brasil”, resume Felippe, “é por isso que o estado é a referência para o cálculo — além disso, o preço da arroba em São Paulo é mais elevado do que na região do triângulo mineiro ou qualquer outra”, conclui.
Sendo assim, se o valor estiver mais caro ou barato, o preço será determinado pela relação entre oferta e demanda. Mato Grosso, por exemplo, é o estado com o maior rebanho bovino do país: consequentemente, o preço da arroba tende a ser menos custoso. Em São Paulo, há uma boa demanda e um rebanho reduzido se comparado ao do Mato Grosso ou ao de Minas Gerais. São essas relações as responsáveis por fazer com que o preço do gado seja maior na região paulista.
“Portanto, o preço da arroba em um lugar é determinado por essa equação, e os produtores devem ter atenção a esse detalhe”, explica Felippe. O cálculo de diferencial de base pode ser um indicativo capaz de mostrar que é interessante comprar a boiada de outros estados.
Dependendo do diferencial de base encontrado, é possível observar indústrias paulistas e buscar boiadas para comprar em outros estados. Lembre-se de que é necessário pagar pelo frete — não basta contabilizar apenas o diferencial. Para descobrir a viabilidade de uma transação, também deve-se considerar o ICMS, a distância e todos os outros aspectos afins.
Como funciona o cálculo do diferencial de base?
De acordo com o especialista, o primeiro passo é verificar a cotação atual da arroba em São Paulo. Imagine que ela ficou cotada em R$ 157 a prazo, livre de imposto. No mesmo dia, na região de triângulo mineiro, ela ficou por R$ 150, nas mesmas condições. Por fim, é preciso calcular a diferença do preço — 150 para 157 — e constatar que o preço está 4,5% (R$ 7) mais barato em Minas Gerais.
Como esse cálculo surgiu?
Embora seja bastante usado no mercado da pecuária, o cálculo tem uma origem curiosa. Sempre que uma indústria está prestes adquirir sua matéria prima — nesse caso, o boi gordo — é indicado fazer as contas de todos os processos e custos para saber quanto será o lucro e se ele é viável.
Portanto, o diferencial de base despontou como uma solução para avaliar a rentabilidade do negócio, mas ele precisa ser colocado ao lado de outros índices importante para estimar as possibilidades e a margem de lucro.
Como o diferencial de base afeta o comércio interno e o comércio exterior?
“Em São Paulo há indústrias que buscam boiadas em algumas outras regiões, como Mato Grosso do Sul. Caso essa procura seja muito grande, é provável que o preço do MS suba um pouco”, exemplifica Felippe. Em algum momento, essa movimentação deixará de ser interessante do ponto de vista econômico — as boiadas de outras regiões ganharão maior visibilidade, o que causará mudanças no comércio interno.
Cabe ressaltar que o principal produto dos frigoríficos é a carne, apesar de essas empresas também trabalharem com subprodutos: é necessário alcançar 95% da receita da carne para fechar o preço do boi gordo. “Isso é, se não fosse a venda dos subprodutos, teríamos um preço da arroba menor”, aponta o especialista.
Nesse contexto, uma via de escoamento da carne é o mercado externo. Por consequência, é razoável que a indústria busque a boiada em outros estados para atender ao mercado externo. “Não são todas as indústrias que exportam, mas as que exportam podem se valer dessa lógica”, recomenda.
Para o fazendeiro, o cálculo pouco muda as atividades práticas do cotidiano — o foco deve recair nas boas estratégias de produção. “O sucesso do produtor é garantido da porteira para dentro. Da porteira pra fora, é possível aumentar o tamanho desse sucesso. Se a produção é feita com excelência, o preço do produto será valorizado de qualquer maneira”, indica Felippe.
Enfim, é fato que o diferencial de base é um indicador mais do que importante no mercado do boi gordo. Ainda assim, não basta se apegar a esse índice para alcançar resultados satisfatórios em seu negócio — o manejo, bem como outros fatores financeiros e estruturais são preponderantes nesse sentido. Dessa forma, não deixe de considerá-los em nenhum momento.
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