A industrialização na construção civil surge como uma alternativa para escalar a produção e para se ter um controle da qualidade do que está sendo feito na obra. Além disso, atrai jovens, pois demanda trabalhos ligados à tecnologia.
A industrialização na construção civil não é exatamente uma novidade. Como explica a engenheira Íria Doniak, presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC), ela é uma tendência que sempre acompanhou questões sociais e mercadológicas.
Mas você sabe quais são, afinal, as vantagens dessa forma de trabalho, as dificuldades e oportunidades que ela traz? Se você é um profissional da construção civil em busca de atualização sobre o mercado e quer conhecer mais sobre os rumos na industrialização na área, vai encontrar algumas respostas neste artigo. Confira!
O que está envolvido na industrialização da construção civil?
A industrialização na construção civil não é simplesmente uma forma racionalizada de trabalho: ela é uma maneira de atender as demandas sociais e de mercado latentes.
Íria Doniak lembra, por exemplo, que desde a Idade Antiga já havia necessidade de certa racionalização das construções.
Ela aponta que foi em meados do século XX que a industrialização se tornou uma marca mais forte da construção civil, devido a fatores históricos:
“Na Europa, após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de um grande número de unidades habitacionais e de infraestrutura, aliando cronogramas ousados, porém com qualidade, culminou no surgimento de sistemas construtivos que possibilitassem elevada produtividade”.
Nesse período, ela destaca, que a pré-fabricação de concreto se tornou o meio mais difundido para industrializar a construção civil.
É uma ideia parecida com o que já conversamos em um artigo sobre tecnologia na construção civil: as mudanças em sistemas construtivos, métodos de trabalho e exigências da mão de obra acontecem dentro de um contexto, e somente se tornam difundidas no setor quando trazem ganhos econômicos e têm validação sociocultural, isto é, quando se provam economicamente viáveis e são bem aceitas pelos usuários.
Com a industrialização, não é diferente. Ela surge como uma alternativa para escalar a produção e, ao mesmo tempo, ter um controle de qualidade mais preciso sobre o que está sendo feito. Veja algumas vantagens disso tudo no próximo tópico.
Quais são os desafios e oportunidades da industrialização?
Na perspectiva de Íria, o principal benefício da industrialização, alcançado a partir da utilização de sistemas estruturais pré-fabricados, é a redução significativa dos cronogramas de obras. Mas ela destaca outros pontos que considera vantajosos:
“Esses sistemas trazem para a construção civil práticas e conceitos industriais, como processos definidos e automatizados, controle de qualidade e rastreabilidade, especialização da mão de obra, uso intensivo de tecnologia na produção e no canteiro de obras”.
Em meados do século XX, como já citamos, a industrialização foi fomentada pelo pós-guerra, quando cidades inteiras precisavam de reconstrução na Europa e a mão de obra era escassa. Hoje em dia, as necessidades são outras. Sobre o mercado nacional, Íria observa:
“A industrialização da construção tem se tornado peça decisiva na conjuntura atual da construção civil brasileira, marcada pela necessidade urgente de ampliação e modernização da infraestrutura de transportes e também de acelerar a construção habitacional, sobretudo as moradias destinadas aos segmentos de menor renda da população”.
Um dos grandes benefícios trazidos pela industrialização é justamente a escala produtiva, ou seja, a capacidade de realizar números mais elevados de obras mantendo um padrão.
A presidente da ABCIC também ressalta o atrativo que a industrialização oferece à mão de obra mais jovem, que demanda trabalhos fortemente relacionados à tecnologia.
Desafios da industrialização
Os benefícios da industrialização são claros. Mas, na prática, ela apresenta uma série de desafios no Brasil, na perspectiva de Íria.
Para ela, a tributação sobre sistemas pré-moldados é um ponto que precisa ser revisto a fim de otimizar a industrialização.
Atualmente, o ICMS — Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços — incide sobre os pré-moldados produzidos em fábricas, o que pode elevar os custos na edificação.
Segundo ela, os efeitos disso se tornam evidentes quando o prazo da execução não tem relação direta com o retorno do investimento. A questão tributária, na perspectiva de Íria, pode afetar programas de moradia de interesse social, inviabilizando a utilização de sistemas construtivos que seriam ideias para escala e industrialização.
Ela aponta que na Europa, em que não nota questões desse tipo, moradias populares são rapidamente construídas utilizando métodos industrializados.
Íria recomenda pesar o custo-benefício das soluções pré-moldadas mesmo tendo em vista esse cenário tributário: “Tal avaliação deveria ser integrada, em vez de parcial, ponderando outros critérios além do custo direto.
O aumento de produtividade proporcionado pela industrialização, com redução do prazo de construção, maior desempenho, redução dos impactos ambientais e redução de passivos trabalhistas deveriam ter peso nas avaliações e seus benefícios precificados”.
Ela também lembra a importância da capacitação na construção civil. “Temos formado pessoas para uma atuação com foco no sistema convencional de construção, e hoje o mercado exige um profissional que pense a obra de forma estratégica, analisando aspectos que envolvam logística, fluxo de materiais dentro do canteiro de obras, evolução tecnológica, normas técnicas, entre outros pontos relacionados a novos métodos de construção e que requerem maior grau de planejamento”, afirma.
Quais tecnologias otimizam a industrialização?
Íria salienta o papel do concreto pré-moldado na industrialização. Segundo ela, a relação se fortalece com o conceito de construção modular.
A engenheira explica que, quanto mais elementos repetidos houver, mais industrializado é o processo. No entanto, limites impostos pela arquitetura, muitas vezes, requerem diferentes módulos no mesmo empreendimento.
Na visão da profissional, o sistema ficou conhecido como sinônimo de pouca liberdade arquitetônica, quando foi disseminado na construção de hipermercados brasileiros na década de 1990.
Essa perspectiva começou a ser alterada na mesma década, com o surgimento de novas concepções arquitetônicas e inovações tecnológicas.
“O ideal é que haja um equilíbrio entre estética, forma e função, a fim de que seja possível industrializar”, acredita ela. Para Íria, a busca por estruturas que sejam sustentáveis e adaptáveis — para mudanças de utilização ou renovação arquitetônica, por exemplo — tem aumentado a utilização das estruturas pré-fabricadas.
Para Íria, a industrialização e o fortalecimento da engenharia civil no país também passam por ferramentas como o BIM — Building Information Modeling — a automação de processos e impressão 3D em concreto, por exemplo.
Por fim, ela resume: “A industrialização como um todo e os sistemas construtivos — não somente o concreto pré-moldado — são fundamentais para que a construção civil no país seja levada a um novo patamar”.
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