A pandemia do novo coronavírus modificou as relações, sejam elas sociais ou profissionais. Um dos principais setores afetados que podemos citar foi o da produção do leite, que viu os seus números caírem e terem os valores alterados para o consumidor final. Nesse sentido, os produtores de gado leiteiro tiveram que reorganizar os seus investimentos e estudar novas estratégias para obterem lucros satisfatórios.
Na atualidade, ainda há vários desafios e questões de mercado que tornam as operações de produção de leite mais complexas. Para atingir bons resultados, é fundamental estar atento às novas mudanças e tendências desse nicho. Sendo assim, preparamos este artigo com a ajuda da Analista de Mercado Agro da Belgo Arames, Vanessa Amorim Teixeira, PhD em Produção Animal e especialista em bovinocultura leiteira. Continue a leitura e confira!
Os desafios ligados à pandemia para a produção do leite
Vanessa começa ressaltando que “os custos altos e a baixa margem de lucro, sem sombras de dúvidas, são e serão os principais desafios pós-pandemia”. A elevação dos custos de produção do leite pode ser considerada como um dos piores agravantes sofridos pelos produtores.
O índice de custo registrado pela Embrapa Gado de Leite (ICPLeite) já vinha apresentando um aumento de 10,7% no ano de 2020, chegando a 30% em 2021, diminuindo a margem de lucro dos produtores. Um dos fatores que mais agravaram essa conta foi o custo com a alimentação do rebanho.
Vale ressaltar que o milho e a soja, que são os alimentos principais da formulação dos concentrados, estão com os preços disparados nos últimos anos, como também os fosfatos e as vitaminas, que são bases da formulação mineral e seguem numa curva ascendente de preços. Além disso, outros fatores pesaram nos custos de produção, como o aumento do preço da energia elétrica e a do combustível, com crescimento de 27% em 12 meses. É importante frisar que o valor do petróleo também influencia o custo dos fertilizantes.
O contexto de aumento de preço do leite
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia em março de 2022 interferiu no cenário mundial agrícola e energético. A Rússia detém 12% da produção mundial de petróleo e a Ucrânia é a terceira maior exportadora de milho em âmbito mundial, contribuindo com quase 15% da exportação desse produto. Ambos os países respondem por mais de 30% das exportações globais de trigo, o que atesta a importância deles no mercado mundial de commodities.
Essa guerra desencadeou aumentos significativos. O petróleo teve um crescimento de 30% no mercado externo; o milho, 20%; a soja, 10% — todos com impactos diretos no custo de produção de leite a pasto e derivados. A esse respeito, a precificação do leite no mercado internacional chegou aos maiores valores nos últimos oito anos. Nesse sentido, o leite em pó integral apresenta cotação de US$ 4.500/tonelada.
A disponibilidade de leite nos principais mercados globais ainda é baixa e a elevação do custo de produção influencia o incremento da oferta internacional. Isso faz com que haja uma grande oscilação no mercado interno de produção e de preços.
O cenário relacionado ao preço do leite e ao lucro do produtor
Mesmo que o produtor ganhe mais pelo preço do seu produto, suas margens ainda continuam limitadas por conta da elevação do valor de importantes recursos para a produção do leite. No caso do milho e da soja, houve registro de uma forte valorização em virtude da quebra da safra de verão, que aconteceu por conta de problemas meteorológicos, principalmente no sul brasileiro.
Outro ponto diz respeito a uma maior demanda e à pouca oferta, devido à guerra, que tem provocado o alto preço desses commodities. O setor energético e agrícola foi impactado com os altos preços de milho, petróleo e fontes de fosfatos e potássios.
Todos esses cenários atingem diretamente o produtor, a produção e a produtividade esperada, bem como o consumidor final, que sofre os principais impactos desses conflitos políticos, econômicos e sociais.
O impacto do aumento do preço na importação de leite
A redução no consumo de lácteos está diretamente ligada ao poder aquisitivo da população. Quando a renda melhora, um dos primeiros direcionamentos de aplicação é voltado a uma alimentação mais completa, que vai impactar positivamente o consumo de leite e dos seus derivados.
Os reflexos negativos da pandemia, com os altos números de desemprego (12,6%), bem como a taxa de inadimplência das famílias brasileiras (67%), geraram a diminuição do consumo consideravelmente. No caso da Taxa Selic, que é administrada pelo Banco Central para controlar a inflação, foi registrado o maior nível desde 2017 (9,25%), minimizando os investimentos e o crédito, de modo a inibir o consumo.
Isso acaba afetando o produtor com reduções dos preços recebidos por litro de leite e isso se transforma em um ciclo dentro de toda a cadeia produtiva. Entretanto, as análises futuras apontam um cenário positivo para a próxima década, com um crescimento esperado de 36%, viabilizado pelo aumento da população mundial e também pelo aumento do poder aquisitivo de países da África, da América Latina e da Ásia.
As novidades no segmento de produção de leite
O mercado está cada vez mais exigente e consciente da oferta de produtos de qualidade. Ou seja, que estejam dentro dos padrões de saúde, do bem-estar animal, da sustentabilidade e da redução de uso de antimicrobianos, em simultâneo demandando uma equipe qualificada e satisfeita em trabalhar naquele ambiente, dentre outros fatores.
Com os avanços das boas práticas de manejo, genética e nutrição, os animais estão cada vez mais produtivos e, ao mesmo tempo, mais exigentes, tornando difíceis as tarefas de monitorá-los de perto e de atender a todos os padrões de maneira sustentável e eficiente. Assim sendo, a tecnologia surge como uma grande oportunidade de facilitar o dia a dia do produtor e a rotina da fazenda.
Além do mais, torna-se possível coletar os dados que comumente são gerados e transformá-los em informação precisa para auxiliar na tomada de decisão dentro do sistema produtivo. Outro ponto importante da inovação é a falta da gestão da cadeia do leite. Progressivamente, os produtores usam áreas menores para produzir mais intensivamente, necessitando de uma equipe qualificada e que tenha como base o princípio da educação. O que falta mesmo é informação ao produtor.
A evolução da pecuária leiteira
A pecuária leiteira evoluiu consideravelmente com o tempo e o produtor que não aderir às informações eventualmente ficará defasado e sairá do mercado. O leite demanda organização, eficiência, dedicação, planejamento e gestão da cadeia como um todo, o que vai exigir uma equipe treinada e qualificada porque, cada dia mais, os sistemas de produção se tornarão mais tecnológicos.
Assim, conseguiremos, com o auxílio das tecnologias, ser mais eficientes nos manejos rotineiros e ter mais tempo para dedicarmos a outras funções. Ademais, será viável ter uma rotina de manejo personalizada para cada animal, seja ela nutricional, seja ela reprodutiva, seja ela sanitária e isso aumentará a produtividade do rebanho, diminuirá perdas econômicas e elevará a lucratividade.
Portanto, essas foram as principais informações acerca dos desafios e das tendências da produção do leite na incerteza do pós-pandemia. Percebe-se que, além de preocupações básicas, como tipos de pastagem, qualidade da alimentação do gado e cercamento do campo, o produtor deve procurar entender sobre o mercado em que atua para poder tornar o seu negócio adequado aos eventos e às demandas do meio externo.
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