Uma das grandes preocupações dos pecuaristas é garantir uma pastagem de qualidade para o seu rebanho. Porém, em determinadas regiões do país, ocorrem períodos de seca que prejudicam a produtividade dos animais. Para solucionar esse problema, mas não comprometer a saúde financeira do negócio, muitos produtores têm apostado nos sistemas de irrigação de baixo custo aliados ao pastejo rotacionado.
A irrigação é uma tática frequentemente cogitada pelos produtores que querem ver seu gado engordar com um pasto farto e vigoroso, mas é preciso avaliar bem a situação da propriedade para fazer a escolha acertada do sistema de irrigação. Caso contrário, o tiro sai pela culatra, e o pecuarista vê seu investimento escoar sem retorno algum.
A união com o pastejo rotacionado maximiza o potencial estratégico da irrigação, uma vez que a pastagem é melhor utilizada e, com isso, os recursos são racionalmente empregados. Para esclarecer algumas dúvidas, conversamos com Mateus Contatto, zootecnista e fundador da Contatto Consultoria. Acompanhe!
O que é pastejo rotacionado e por que ele é importante?
A prática do pastejo rotacionado consiste em dividir a propriedade em piquetes para o gado a fim de garantir um pasto de qualidade ao longo do ano todo. Os piquetes são áreas pré-definidas e cercadas, ocupadas pelo rebanho por um período variável (geralmente de um a oito dias), e que passam por um período de descanso logo após o pastejo.
Essa técnica permite que a pastagem se recupere da colheita e do pisoteio e rebrote com mais vigor, em menos tempo. Dessa forma, o gado tem acesso ao pasto em sua fase mais produtiva, mais nutritiva e menos fibrosa.
O método propicia um pastejo mais uniforme, independentemente do tipo de pastagem escolhido. Uma vez respeitado o ciclo fisiológico da forrageira, é possível atingir maior longevidade para o pasto. Além disso, podemos destacar os seguintes benefícios:
- maior produtividade (mais rendimento por unidade de área);
- maior controle sobre a quantidade de pastagem disponível;
- redução das perdas de pastagem em decorrência do pisoteio do gado;
- maior chance de recuperação da pastagem;
- pastejo mais uniforme (não falta nem sobra pasto);
- aumento da vida útil do pasto (elimina-se a necessidade de recuperar a pastagem, evitando gastos onerosos);
- melhor distribuição dos dejetos do rebanho (melhorando a fertilidade do solo);
- redução da ocorrência de plantas invasoras.
Como aplicar a irrigação de baixo custo em pastagens?
Contatto ressalta ser imprescindível consultar um profissional que tenha experiência com os sistemas de irrigação para definir o ideal de acordo com a realidade da fazenda. Além disso, um engenheiro agrônomo especialista em hidráulica deve avaliar qual é a real disponibilidade de água e sua vazão para ver se é possível ou não irrigar a região.
“Uma coisa é molhar a planta, outra coisa é irrigar a planta”, comenta Contatto. O zootecnista exemplifica:
Uma lâmina de 5 mm de água jogada via pivô central ou aspersão em malha equivale a 5 litros de água por metro quadrado. Em algumas épocas do ano, devido à alta evapotranspiração e ao baixo índice pluviométrico, essa lâmina pode ser diária (150 mm por mês). Então, em 1 hectare (10.000 m2), são aplicados 50.000 litros de água e, se você tem uma área de irrigação de 50 hectares, são 2.500.000 litros de água por dia.
Uso eficiente de água
É crucial ter uma estação meteorológica na fazenda, para saber a real necessidade em irrigar e qual é o volume de água a ser aplicado, uma vez que o gasto de energia é alto, e não se pode ligar o sistema a toda hora. Sobre esse ponto, Contatto frisa que é preciso ter atenção ao uso eficiente da água — relacionado com o gasto de energia elétrica.
Isto é, se o produtor quiser economizar energia e, com isso, não jogar a quantidade de água de que a pastagem precisa (molhando a forrageira, apenas), não há produção de forragem suficiente, o que inviabiliza o sistema. Por outro lado, se há excesso na irrigação, há maior custo de energia elétrica e um prejuízo em relação à produção de forragem, dado que algumas espécies são pouco tolerantes ao encharcamento do solo.
Por isso, é primordial usar uma miniestação meteorológica, ou ter a assessoria de profissionais para monitorar a evapotranspiração potencial e a precipitação real da propriedade. Assim, é possível calcular o balanço hídrico e saber a real demanda de lâmina de água a ser aplicada para o tipo de pastagem na sua área irrigada.
Além disso, é cada vez mais comum o uso de fontes alternativas de energia nas propriedades, o que contribui para que o sistema de irrigação seja de baixo custo.
Adubação das pastagens
Outro ponto que Contatto destaca é sobre a adubação das pastagens. É fundamental ter a análise de um técnico competente para determinar todos os macro e micronutrientes necessários à região (muitos pecuaristas querem economizar e fertilizam o solo apenas com o nitrogênio da ureia).
Caso o produtor não respeite essa necessidade, não conseguirá alcançar as metas de produção possíveis em um sistema irrigado. Isso acaba elevando o custo da matéria seca, pois há gasto de energia para ligar o sistema, mas a pastagem adubada de forma inadequada provoca queda na produção por hectare/ano.
Quais são os sistemas de irrigação utilizados em pastejo rotacionado?
Existem quatro modelos de irrigação comumente utilizados no Brasil: sistema de canhão, sistema de inundação, sistema de aspersão em malha e sistema de aspersão por pivô central.
Os dois últimos são os mais amplamente instalados nas propriedades, pois têm baixo custo, além de estarem bastante avançados quanto à automação e às tecnologias de uso eficiente da água. Veja a seguir.
Sistema de canhão
É muito usado para jogar dejetos em pastagem, principalmente dejetos líquidos de suínos e de sistemas de produção de leite, em que se lava a sala de espera das vacas e separa-se o resíduo sólido para, então, o líquido ser aplicado no campo.
Sistemas de inundação
São bem específicos em locais onde se permite encharcamento do solo, porém a quantidade de água utilizada é muito alta, e tem-se diminuído a utilização desses projetos.
Sistema de aspersão em malha
É muito utilizado em projetos pequenos, em que serão irrigados menos de trinta hectares. Nesse caso, o custo de investimento é mais barato quando comparado ao pivô central. Em maior escala, é utilizado onde a declividade do terreno não permite a utilização de pivô central.
A aspersão em malha também é muito utilizada em terrenos onde os perímetros não permitem a instalação do pivô. Às vezes são propriedades retangulares, ou com muitos cantos nas divisas, ou com APP (Área de Preservação Permanente) que corta a propriedade toda e não permite uma área única e uniforme para a instalação de um pivô central.
Contatto explica que a aspersão em malha é muito interessante para pastejo rotacionado, pois o sistema permite desenhar piquetes da forma que o produtor quiser, deixando-os no tamanho e no formato ideais para se obter um pastejo homogeneizado. Além disso, pode-se colocar corredores estratégicos na área e destinar áreas de lazer ao rebanho.
Sistema de aspersão pivô central
É bem utilizado em áreas grandes e onde a declividade do terreno permite. Quanto maior for a área irrigada, mais o pecuarista consegue diluir o investimento no pivô, uma vez que a distância da adutora e a estrutura central do pivô é a mesma para um pivô pequeno (trinta a quarenta hectares) comparado com um pivô maior (sessenta a cem hectares).
Esse sistema ainda tem valor de sucata, que pode ser vendido ao final da sua utilização. Pode ainda ser utilizado para outros fins (como lavoura), ou arrendado para agricultura. No sistema de aspersão em malha isso fica mais complicado, pois há os canos enterrados e os aspersores para fora do terreno, o que limita muito o uso de máquinas agrícolas na área, além de não haver muito valor de sucata nesse sistema.
O pivô central limita um pouco, pois os piquetes são dispostos em formato de pizza, e isso causa bicos na área, principalmente no centro do pivô, onde todos os piquetes se concentrarão. Contudo, há estratégias em relação à disposição das cercas para o gado que minimizam esse impacto dos piquetes em pizza.
Uma delas é passar a cerca no meio do pivô acompanhando a disposição das rodas da estrutura, separando, assim, a metade de dentro da metade de fora do pivô. Outra forma é colocar as áreas de lazer do rebanho para o lado de fora do pivô, em vez de no centro.
Com isso, o produtor não perde área nobre de irrigação no centro, em que poderia ter pasto, além de não sobrecarregar essa porção do piquete com pisoteio. Ademais, com as áreas de lazer para fora, é possível fazê-las do tamanho que quiser, plantar árvores para sombrear os animais e instalar cochos suficientes para a suplementação.
Como você pôde notar, o pastejo rotacionado pode ser ainda mais eficiente se combinado com um sistema de irrigação de baixo custo. Contudo, por todos esses fatores que influenciam a cadeia produtiva, Contatto ressalta a importância de o produtor se cercar de técnicos capacitados antes de investir em um projeto intensivo como esse e frustrar-se no meio do caminho.
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