Garantir uma nutrição de excelência para o gado ao longo de todo o ano é uma das maiores preocupações dos pecuaristas. Se a fazenda não for eficiente no sistema de produção, ela fica fora do mercado e não vai conseguir se manter na atividade. Por isso, é crucial que o produtor atente para o manejo das pastagens e para a qualidade da silagem que será oferecida no próximo ano.
Assim, o planejamento da ensilagem deve ser realizado minuciosamente, levando em consideração diversas questões, desde a escolha da forrageira, passando pelo plantio até chegar ao fechamento do silo. Afinal, os cuidados com essas variáveis asseguram que o processo de fermentação ocorra da maneira ideal.
Porém, muitos produtores têm dúvidas quanto às boas práticas que elevam a qualidade da silagem. Para solucioná-las, conversamos com Josiane Santos, zootecnista especialista em nutrição de ruminantes da Vaccinar. Aproveite as informações!
Como avaliar a qualidade da silagem?
Na fazenda, uma silagem de boa qualidade deve ter cheiro agradável e levemente ácido, coloração clara (verde e tons amarelados ou beges), textura firme (não amassa quando comprimida nas mãos) e rica em grãos (que devem ser quebrados no ato da colheita a fim de disponibilizar o amido para degradação ruminal). Além disso, a silagem deve conservar ao máximo o valor nutricional da forrageira em seu estado natural.
Contudo, é preciso acompanhar alguns indicadores-chave para a avaliação da qualidade da silagem — e a análise bromatológica da silagem permite que o produtor saiba, com rapidez e precisão, como está o processo na sua fazenda. Entre os principais índices que devem ser monitorados de perto estão:
- Teor de Matéria Seca (MS) — é o peso total do material, descontado o valor da umidade (água). É com base nesse índice que se estabelece o cálculo da dieta, uma vez que o consumo do alimento pelos animais é definido em kg de MS/animal/dia (quanto menor a porcentagem de MS, maior o consumo). O ideal é que esteja entre trinta e dois e trinta e cinco por cento;
- Fibra em Detergente Neutro (FDN) — é a quantidade total de fibra presente na silagem. Quanto menor for a FDN, maior será o consumo de MS. Os níveis bons de FDN ficam em torno de cinquenta por cento.Contudo, mais importante que o seu teor na forragem é a digestibilidade dessa fibra. Forrageiras temperadas, por exemplo, possuem mais FDN que as forragens tropicais, porém, têm alta digestibilidade, possibilitando maior inclusão dessas na dieta de ruminantes.
- Fibra em Detergente Ácido (FDA) — é o índice que mensura a proporção de hemicelulose e lignina. Ademais, indica o valor energético do alimento (expresso em Nutrientes Digestíveis Totais, ou NDT), que é maior quanto menor for a FDA. Na silagem de milho, um bom índice fica em torno de trinta por cento.
A especialista comenta, ainda, que é fundamental que a forrageira tenha alto teor de amido (ou teor de carboidratos solúveis) e baixo poder de tamponamento. Quanto maior for a quantidade de amido disponível, mais substrato as bactérias terão para realizar a fermentação do material.
Já o poder tampão está relacionado ao pH, ou seja, a forrageira deve ter baixo tamponamento para que haja a queda eficiente do pH. Caso o pH seja alto, o processo de fermentação será comprometido.
Além desses fatores, o produtor deve atentar para o índice de processamento dos grãos, ou Kernel Processing Score (KPS). Para que o milho seja devidamente digerido pelos bovinos, e seus nutrientes, absorvidos, setenta por cento dos grãos devem ser fracionados em pedaços menores que ¼ do seu tamanho original.
Qual é o impacto da qualidade da silagem na produção agropecuária?
A qualidade da silagem é medida, claro, pelo desempenho dos animais em campo, principalmente quando tratamos de vacas em lactação. Ou seja, um alimento de alta qualidade é aquele que proporcionará altas produções.
De modo geral, as dietas deficientes em energia causam a redução na produção do leite, provocam a perda excessiva de peso, geram distúrbios reprodutivos, além de diminuírem a resistência dos animais às doenças. Em contrapartida, dietas com excesso de energia ou carboidratos altamente fermentáveis no rúmen causam distúrbios metabólicos que aumentam a propensão a doenças, além de diminuir a produção de leite.
Dessa forma, planejamento é a palavra de ordem para os pecuaristas, já que eles precisam sempre pensar um ano à frente, destaca Josiane. O manejo das forrageiras e uma boa ensilagem são as garantias de uma produção elevada e eficiente.
Que práticas são indicadas para garantir a qualidade da silagem?
Muito bem, mas quais são as boas práticas de ensilagem que asseguram um alimento de qualidade para os ruminantes? Veja algumas dicas da especialista, a seguir.
Escolha a forrageira ideal
Como você viu até aqui, a qualidade da silagem é determinada por uma série de fatores, a começar pela escolha da forrageira que será ensilada. Josiane explica que a conservação pode ser feita com qualquer tipo de forragem, seja ela capim, gramínea ou leguminosa.
Contudo, as características fisiológicas das plantas indicam quais delas passam pela fermentação de maneira mais fácil, tornando todo o processo mais eficiente na fazenda. No Brasil, a cultura mais utilizada é o milho, pois apresenta umótimo rendimento de matéria verde, notável processo de fermentação e boa conservação do valor nutricional da massa ensilada.
Além disso, o milho resulta em um bom teor de MS na ensilagem, mais de três por cento de carboidratos solúveis e baixo poder de tamponamento. Como se não bastasse, o alimento é de alta qualidade e é fonte importante de alimento para ruminantes.
Faça a colheita na época certa
O solo precisa estar bem preparado e fértil, e o produtor precisa ficar atento à sua umidade e temperatura na hora do plantio. O plantio direto é o mais recomendado, pois mantém a boa estrutura do substrato.
A época da colheita também é determinante para a qualidade da silagem, já que o milho deve ser colhido quando o balanço entre energia e proteína estiver ideal. Isso se dá quando a MS atinge de trinta e dois a trinta e cinco por cento, como mencionamos.
O produtor pode verificar isso em campo, analisando a linha do leite do grão de milho (porção branca do grão que some à medida que a espiga amadurece). O momento ideal é quando a linha do leite está na metade do grão.
Preze pela vedação do silo
A compactação da silagem e a vedação do silo são etapas cruciais para o processo de fermentação da forrageira. Josiane comenta que o produtor não deve tentar economizar na lona escolhida para vedar o silo, pois um produto de má qualidade pode comprometer todo o material.
A compactação e a vedação são importantes para diminuir ao máximo o nível de oxigênio dentro do silo, além de assegurarem os níveis desejáveis de umidade e de temperatura no seu interior.
Acompanhe o processo de fermentação
O processo de ensilagem não deve ser esquecido pelo produtor depois que o silo é vedado. Deve-se evitar aberturas desnecessárias, mas o monitoramento da silagem precisa ser realizado de perto.
Assim, as alterações nos níveis de temperatura, umidade, oxigênio e ácidos orgânicos (responsáveis pela conservação da forrageira) podem ser contornadas antes que toda a massa ensilada seja afetada.
Atente à abertura do silo
A retirada de silagem do silo deve ser feita diariamente para que os animais sempre tenham acesso ao alimento de qualidade. Descarte todas as partes estragadas ou fungadas e remova 30 cm da silagem, pelo menos.
Depois, mantenha o painel liso, sem buracos nem falhas, pois isso aumenta a superfície de contato com o oxigênio e propicia a proliferação de bactérias aeróbias que, por sua vez, produzem ácido butírico. Esse ácido está relacionado com a baixa qualidade da silagem.
Quanto ao processo de ressilagem (silagem comprada de outro produtor que passa pelo processo de ensilagem novamente), Josiane não recomenda essa prática. Isso porque a movimentação do material faz com que ele tenha mais contato com o oxigênio, resultando na perda de nutrientes.
A especialista ressalta, portanto, que o planejamento é a chave para uma excelente qualidade da silagem. Calculando a quantidade de alimento necessária para nutrir o rebanho e sendo preciosista na ensilagem, o produtor garante a eficiência produtiva na sua fazenda e um bom retorno dos seus investimentos.
Aliás, saber exatamente o quanto de recursos utilizar e aplicar ferramentas tecnológicas para aproveitá-los ao máximo é uma grande tendência do mercado. Por isso, saiba, agora, o que é a Pecuária de Precisão e por que começar a praticar já!