A engorda a pasto de bovinos — também chamada de semiconfinamento — é um método distinto do confinamento e pode causar impactos bastante positivos na produtividade do setor agropecuário.
Com ela, é possível reduzir os custos de produção e obter resultados mais satisfatórios. Levando isso em conta, preparamos este artigo. Durante a leitura, você saberá quais são as vantagens e as desvantagens dessa modalidade e como ela pode ser estratégica. Vamos lá?
Como funciona a engorda a pasto de bovinos?
Para nos ajudar a tratar desse tema tão relevante para o setor, conversamos com um especialista no assunto: Wagner Pires, do Circuito da Pecuária. Ele é engenheiro agrônomo e pós-graduado em pastagens pela Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com Pires, “o semiconfinamento é feito quando o pasto não dá uma resposta de produção de massa e de crescimento para determinado volume de gado. Por conta disso, é necessário suplementá-lo com outros alimentos, como silagem, grãos, ração etc. Essa complementação é fornecida para atender às necessidades do animal, para que ele se alimente do pasto e também dos suplementos”.
Desse modo, explica Wagner, “é necessário montar um coxo e uma estrutura na pastagem para oferecer ao rebanho, em uma determinada hora do dia, a suplementação. Normalmente, ela é à base de volumoso e proteinado. Também é indicado acrescentar um grão, como a soja. Existem várias misturas que podem ser feitas para fazer com que o gado volte a ganhar mais peso do que ele normalmente ganharia se permanecesse somente com a alimentação proveniente do pasto”.
“A ciência por trás do semiconfinamento consiste em selecionar os rebanhos que têm os gados mais pesados, que já estão quase pronto para embarcar para o frigorífico. Eles precisam comer muito para ganhar um pouco mais de massa, principalmente quando o pasto não está dando resposta, porque já está entrando no período de seca. Então, é fundamental suplementar para que o animal ganhe peso e o processo de ‘girar’ seja acelerado. Trata-se de uma técnica muito boa, que pode gerar um excelente resultado”, comenta o consultor.
Como fazer o semiconfinamento de bovinos?
Segundo Wagner, é importante ter atenção à rotação entre diferentes pastos: “Muitas vezes, concentra-se o gado mais pesado na área onde está sendo feito o semiconfinamento e, por consequência, ocorre um descaso em relação às outras áreas. É uma forma de aliviar as outras pastagens da fazenda, evitar degradação e permitir que o gado saia mais precocemente”.
Porém, para que a técnica alcance o efeito esperado, surge a necessidade de se fazer uma estrutura, para que os pastos sejam muito bem divididos. Ao fazer um semiconfinamento envolvendo vários pastos, é preciso ‘rodar’ a praça de alimentação central, pois é nessa área que o gado terá acesso à água e ao suplemento.
De acordo com Pires, os cuidados com o capim devem ser redobrados. “Pode-se trabalhar com dois, três ou quatro pastos, mas eles devem ter, obrigatoriamente, o mesmo tipo de capim e o mesmo tamanho. Isso vai fazer com que o gado não estranhe o alimento, porque a flora ruminal dele estará adaptada a uma gramínea específica. As dimensões precisam ser iguais por conta do lote fixo de animais. Caso contrário, pode sobrar ou faltar comida”.
A adubação e a condição nutricional também são aspectos relevantes, pois somente dessa maneira o vegetal rebrotará rapidamente. A divisão deve ser bem demarcada, para que seja viável oferecer conforto ao gado e ele possa se aproveitar dos nutrientes disponíveis.
Como essa modalidade do confinamento possibilita a redução dos custos?
É válido ressaltar que o semiconfinamento, geralmente, é feito no período de transição que há entre o fim das chuvas e o começo da seca, momento no qual o pasto para de dar uma resposta significativa do ponto de vista nutricional. Se essa queda prejudica a engorda do gado, isso também pode implicar custos adicionais para a produção, que fica mais lenta e deficitária.
Em contrapartida, se o processo é acelerado e o ciclo do animal transcorre no tempo previsto, a tendência é que você gaste menos para atingir um nível ainda maior de eficiência produtiva.
No entanto, para chegar a esse ponto, é “importante trabalhar com uma genética de qualidade, ter uma equipe bem treinada e ter boas pastagens”, aponta Wagner. “Os lotes devem ser uniformes, ou seja, homogêneos — a seleção é feita de acordo com a genética, com o peso e com o tempo de vida, de preferência. Animais maiores podem inibir a ação dos menores, minando o respeito entre eles e tirando a criação dos padrões”. Seguindo esses passos, a engorda a pasto dos bovinos será mais ágil e efetiva.
Os números da economia são expressivos. Uma matéria publicada pelo Canal Rural, em 2016, mostra como pecuaristas mineiros reduziram em até 40% o custo de produção da arroba utilizando esse sistema.
Qual o cercamento ideal para o confinamento a pasto?
O confinamento a pasto, no processo de intensificação, exige que se trabalhe com uma quantidade maior de animais por área. Por isso, é imprescindível evitar qualquer tipo de acidente ou desconforto para os animais, o que explica a enorme importância do cercamento.
Para o pesquisador, “atualmente, o tipo de arame mais recomendável para fazer uma boa divisão é o liso. A cerca também deve ser bem feita, para que o sistema de fato funcione”.
Alguns erros referentes ao cercamento precisam ser evitados. “Quando se tem um grupo muito grande reunido no mesmo pasto, pode acontecer uma competição entre eles, gerando brigas, algo normal entre os bovinos. Nessas disputas, um animal pode se ferir com um arame de má qualidade ou estourar uma cerca fraca, ocasionando um prejuízo para a fazenda. Por isso, as divisões devem ser impecáveis”, explica Wagner.
Pires vai mais adiante e explica como esse sistema pode fazer a diferença na produção. “Em virtude da porcentagem de massa de capim no período das águas (70%) e de seca (30%), quase todos os pecuaristas do Brasil vão ter esse diferencial de produção. Só tem uma forma do produto não estragar os pastos da fazenda e conseguir um resultado econômico: fazendo um projeto de semiconfinamento”. Então, pode-se dizer que a engorda a pasto de bovinos é sim uma excelente estratégia.
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