A manutenção em pontes é um dos tópicos que mais causam dúvidas na construção civil. Afinal, qual é a vida útil dessas estruturas? Como inspecioná-las de acordo com as normas vigentes? Quais pontos exigem atenção durante esse procedimento?
Levando tais fatores em consideração, produzimos este artigo com base na entrevista que fizemos com o engenheiro Leonardo Braga Passos, que é sócio-diretor da PI-Engenharia — empresa especializada em estruturas e normas regulamentadoras. Acompanhe o conteúdo até o fim e aproveite as informações!
Qual é a vida útil média de uma ponte?
Segundo o especialista, “o mínimo de dimensionamento de vida útil é de 50 anos. Pontes e viadutos geralmente são dimensionados para um tempo maior”. Além disso, é preciso considerar pontos como colisões, incêndios e degradações naturais, ou seja, fatores que interferem na durabilidade da estrutura.
No caso da resistência ao impacto, há um complexo sistema de proteção, composto por barreiras e placas informando o limite máximo de altura para evitar caminhões e veículos com altura superior ao que foi estabelecido.
Em relação aos incêndios, há a ABNT NBR 15200:2012 — Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio —, voltada ao dimensionamento de quaisquer estruturas feitas em concreto armado. No caso das estruturas metálicas, elas devem ser dimensionadas com certo tempo de fogo. A ideia é que consigam suportar minimamente um incêndio para que as pessoas possam sair com segurança antes de um possível colapso.
No que consiste a ABNT NBR 9452:2016 e como ela se relaciona à manutenção em pontes?
A ABNT NBR 9452:2016 — Inspeção de pontes, viadutos e passarelas de concreto – Procedimento — é uma norma de abrangência nacional, obrigatória em obras públicas, que lida com a inspeção de pontes, viadutos e passarelas de concreto. Ela dispõe sobre quatro tipos de periodicidade:
- cadastral (realizada no início ou quando há alguma alteração na obra);
- rotineira (anual);
- especial (a cada 5 anos, mas pode ser postergada até 8);
- extraordinária (para demandas não programadas).
Três parâmetros são utilizados — funcionais, estruturais e de durabilidade — para elaborar uma nota de classificação que vai de 1 (crítica) a 5 (excelente).
Leonardo ainda chama atenção para uma norma anterior a essa: a ABNT NBR 16230:2013 — Inspeção de estruturas de concreto – Qualificação e certificação de pessoal – Requisitos. Ela é importante porque qualifica e certifica quem pode fazer tais inspeções.
Para que servem as inspeções visual e subaquática?
“Elas se enquadram no grupo de inspeções necessárias para avaliar uma estrutura. Ao analisar um tubulão ou uma fundação que está no meio aquático — dentro de um oceano, ou de um rio — esse tipo de inspeção é imprescindível”, explica Leonardo. Podem ser feitas com um apoio de uma corda, por exemplo, caso o acesso não seja fácil.
A inspeção visual, também conhecida como inspeção tipo 1, tem uma caracterização bem específica. Em algumas delas, tende a ser necessário trabalhar com ensaios não destrutivos e destrutivos para identificar a qualidade dos materiais utilizados (concreto e aço).
Quais pontos da inspeção em pontes demandam cuidados?
Segundo Leonardo, são inúmeros pontos que exigem bastante atenção por parte dos engenheiros responsáveis. O mais importante deles é a condição dos aparelhos de apoio, que não podem estar destruídos, apresentar trincas, distorção ou algum deslocamento. Afinal, eles cumprem o papel de transferir os esforços que vêm da superestrutura, isto é, do tabuleiro, para a mesoestrutura, que são os pilares.
“Se tiverem algum tipo de defeito ou ficarem muitos anos sem manutenção, começarão a transferir esforços horizontais do tabuleiro para o pilar. Por isso, devem ser analisados de maneira paciente e criteriosa”, aponta.
É fundamental verificar o estado das juntas de dilatação, que estão associadas a uma série de elementos, como retração térmica, vedação e estanqueidade. Nos pilares, é preciso analisar a presença de trincas e fissuras, assim como na laje de aproximação nos muros.
Qual certificação é necessária para fazer essa inspeção?
A ABNT NBR 16230:2013 estabelece quais são os requisitos para qualificação e certificação do profissional que inspecionará a obra. Cabe lembrar que há dois tipos de inspetor e cada um deles tem uma qualificação profissional.
O inspetor tipo 2, por exemplo, deve ser um engenheiro civil especialista, com mestrado e/ou doutorado em patologias da estrutura e uma experiência de 2 a 3 anos na área, no mínimo. Caso não tenha essa formação acadêmica, é preciso contar com uma experiência mínima de 5 anos no exercício da profissão, além de ter atuado com patologias da estrutura por um período de 1 a 5 anos.
Quais são as maiores dificuldades da manutenção em pontes?
A necessidade de ter vários equipamentos à disposição para acessar uma ponte é uma das grandes dificuldades dessa manutenção. Quem vai fazer a inspeção também precisa ser treinado em conformidade com a Norma Regulamentadora Nº 35 (NR 35) — Trabalho em Altura —, que diz respeito aos trabalhos realizados em lugares altos.
Para Leonardo, “o principal obstáculo, atualmente, é a questão financeira dos proprietários dessas estruturas, ou seja, os órgãos públicos — prefeituras, governos estaduais e governo federal. Muitas estruturas são antigas e não existe uma cultura de manutenção, porque não há liberação de verba suficiente para isso”.
Algumas prefeituras têm lançado licitações para fazer inspeções de estruturas que estão com um maior grau de risco. “Para mim, ainda não é o ideal. Há pouca estrutura sendo analisada, de fato”, opina o especialista.
Como a tecnologia pode ajudar na manutenção em pontes?
A utilização da tecnologia na construção civil é crescente e tem colaborado de forma significativa no sentido da produtividade. Drones e robôs podem ajudar na inspeção dos tabuleiros, por exemplo.
Recursos tecnológicos também são especialmente úteis para estruturas de difícil acesso. Um robô pode entrar em tubulações ou até mesmo em uma ponte que está condenada. A inspeção por cadastramento por meio de lasers (laser scan) é boa para mapear a estrutura, facilitando a visualização pelo computador, dispensando o uso de trena em cada um dos elementos.
Enfim, a manutenção em pontes é repleta de desafios e oportunidades. Basta ter cuidado com aspectos essenciais e buscar alternativas que podem contribuir demais na realização das inspeções.
Se você gostou do conteúdo, aproveite para saber um pouco mais sobre a importância da avaliação técnica para a engenharia!