A avaliação técnica de projetos, ou ATP, é um dos principais mecanismos para garantir a segurança na construção de grandes estruturas. Como um engenheiro pode se preparar para passar por essa etapa com praticidade e confiança em seu trabalho?
Com a ajuda de Leonardo Braga Passos, sócio-diretor da Pi Engenharia, vamos conversar um pouco mais sobre esse ponto importante no setor: o que é a ATP, como funciona e como a relação entre projetista e avaliador é fundamental para o sucesso. Confira!
O que é a Avaliação Técnica de Projetos?
Talvez a maior preocupação de engenheiros, acima da estética e da praticidade de uso, seja sempre a confiabilidade das edificações das quais são responsáveis.
Por se tratar de uma atividade de fundamental importância para a sociedade, a engenharia estrutural tem como principal finalidade conciliar segurança e qualidade técnica.
É pensando nisso que foi formatada a Avaliação Técnica de Projetos. De acordo com Leonardo, “a ATP é um procedimento que tem como finalidade garantir qualidade, durabilidade e segurança de nossas edificações do ponto de vista estrutural e que deve ser encarada como processo de troca de experiência, gerando segurança e confiança aos contratantes e usuários das estruturas projetadas.”
É um procedimento técnico e realizado ao longo de várias etapas de uma construção, do projeto à execução, colocando avaliador e engenheiro para trabalharem juntos em soluções que aliem a proteção de trabalhadores e futuros usuários da edificação aos objetivos comerciais e estéticos da construtora.
Que tipos de obra demandam a ATP?
Existe um senso comum de que a Avaliação Técnica de Projetos é mais recomendada para obras de realização complexa e de grande porte — como pontes, aeroportos e estádios.
Mas, como o próprio Leonardo aponta, podemos analisar a questão sob outro ponto de vista: quais empreendimentos, caso venham a ter um problema devido a um erro de projeto, poderão gerar vítimas?
A resposta, ele conta, é todos. Por menor que seja o risco, qualquer erro de planejamento ou execução em um projeto de engenharia pode resultar em vítimas. Portanto, a conclusão é que, idealmente, todas as estruturas sejam submetidas à ATP.
Quais os processos envolvidos nessa avaliação?
Os processos de avaliação técnica são definidos em função da fase em que o projeto ou obra se encontra, divididos em 5 modelos:
- avaliação técnica ocorrendo em paralelo ao desenvolvimento do projeto estrutural;
- avaliação técnica ocorrendo após a conclusão do projeto estrutural;
- avaliação técnica ocorrendo após o início do projeto estrutural;
- avaliação técnica ocorrendo após a construção da estrutura;
- avaliação técnica após a ocorrência de manifestações patológicas.
Para cada um desses momentos existem etapas e processos especializados para avaliar o que já foi produzido e projetar alterações para o futuro. Se você quer se aprofundar nos passos necessários para a avaliação, pode acessar as recomendações abece 002:2015.
Qual a importância da ATP e a dificuldade de difundi-la?
A Avaliação Técnica de Projetos é recomendada desde a vigência da NBR 6118:203, com uma revisão em 2014. Ainda existe muita dificuldade no mercado brasileiro em consolidar a ATP como prática comum. Entre os motivos mais aparentes para essa resistência, estão:
- custo “adicional”;
- não aceitação da ATP por alguns engenheiros de estruturas;
- o desconhecimento do item 5.3 da NBR 6118:2014;
- alguns contratantes acharem que a ATP deve ser realizada apenas em empreendimento de “grande porte”.
Leonardo, inclusive, faz questão de rebater o primeiro motivo, muito comum de ser ouvido entre os profissionais da área:
“Alguns contratantes consideram que a ATP é mais um item de custos no orçamento da obra do ponto de vista imediato. Contudo, como o objetivo da ATP é de tornar o processo de construção mais seguro, com maior durabilidade e evitar erros, esse custo adicional inicial deve ser encarado como uma economia no processo como um todo.”
E essa é a importância da Avaliação Técnica de Projetos, um pensamento em longo prazo na segurança da sociedade e também na percepção de qualidade do seu trabalho.
A atenção aos detalhes agora significa menos dores de cabeça no futuro, incluindo até a economia com retrabalhos durante a obra ou manutenção imediata após a conclusão.
Qual a importância da relação entre projetista e avaliador?
A relação entre projetista e avaliador ainda é uma questão problemática no Brasil, muito pela resistência de engenheiros estruturais em acatar as modificações recomendadas por quem analisa seu projeto.
Na verdade, o objetivo da ATP não é limitar ou atrapalhar o trabalho do projetista, mas solucionar alguns erros comuns de projeto, como:
- cobrimento das armaduras insuficientes;
- instabilidade global da edificação;
- falta de dimensionamento ao vento, incêndio, sismo, dentre outros;
- resistência do concreto insuficiente ou abaixo do especificado pela norma;
- desconsideração de carregamentos como subpressões, variações térmicas, alvenarias, cargas dinâmicas, dentre outras.
Segundo, Leonardo, “não é de responsabilidade do avaliador verificar se o projeto estrutural está compatibilizado com as demais disciplinas — arquitetura, instalações, impermeabilização, dentre outras. Porém, não é impeditiva sua participação nas reuniões de compatibilização com os demais profissionais juntamente à presença do projetista estrutural.”
Quanto mais integrado o avaliador estiver nesse processo, mais simples ele é para todos os envolvidos, o que resulta em um projeto mais eficiente e seguro. Segundo definição do sócio-diretor da Pi Engenharia:
“É de fundamental importância que a responsabilidade técnica do projeto, no aspecto da legalidade, seja do autor do projeto — que deve recolher a ART de execução. O avaliador é responsável apenas pela avaliação técnica do projeto e, para isso, deve recolher a ART de verificação/avaliação estrutural.”
Ou seja, um projeto estrutural só tem a ganhar com a harmonia entre profissionais que estão seguros de seus papéis nesse processo e com conhecimento das recomendações propostas pela NBR e a ABECE.
Não importa o tamanho ou a natureza de uma obra, trabalhar agora pensando no futuro é uma garantia de segurança para a sociedade e qualidade para você ou sua empresa. Por isso, terminamos com a fala de Leonardo sobre essa relação próxima na Avaliação Técnica de Projetos:
“O respeito entre os dois profissionais deve ser mútuo. Eles devem respeitar o trabalho realizado por ambas as partes com o intuito de somar esforços, visando um produto final seguro e que atenda às normas vigentes.
É importante que o projetista estrutural não visualize que o avaliador esteja desconfiando do seu projeto, bem como avaliador respeite o trabalho intelectual do projetista.”
E esse é um exemplo de que conhecimento das normas e recomendações, de novas técnicas e ferramentas para o seu trabalho é sempre uma forma de evoluir como profissional. Então, continue essa busca lendo este artigo sobre capacitação profissional na construção civil!