Os tipos de arame de solda são inúmeros e isso pode confundir ou dificultar na hora da escolha. É muito importante que o profissional domine o assunto, conheça suas opções e saiba quais são os principais requisitos de cada aplicação, assim saberá quando cada tipo de arame deve ser utilizado, buscando obter o melhor resultado.

Além disso, não se pode perder o foco das características originais do projeto e da qualidade do produto, pois isso proporciona segurança e agrega mais valor aos projetos. Também vale a pena conhecer as normas internacionais que dizem respeito à classificação dos arames de solda e suas aplicações, para não fugir ao que já está estabelecido, além de sempre ouvir as recomendações do fabricante do consumível.

Saiba mais a respeito nos tópicos a seguir, pois elencamos os pontos principais sobre esse assunto. Continue a leitura!

Quais são os principais tipos de arame de solda?

Inicialmente podemos analisar o assunto por dois ângulos diferentes:

O tipo de arame de solda pode ajudar a definir a qualidade da soldagem, mesmo quando as condições gerais não forem ideais. Porém é importante observar diversos detalhes da sua aplicação, para não optar por um arame especial, elevando os custos do produto, apenas por não ter as condições ideais de aplicação ou de seus equipamentos. O impacto dessa escolha pode ser elevado exponencialmente se o projeto for de longa duração ou para grandes volumes de peças.

Por outro lado, ainda que a concorrência, e a gestão nas empresas em geral, nos convidem sempre a buscar por mais reduções nos custos, buscando alternativas com apelo à “economia”, fique atento: no custo total das operações de soldagem, o valor do arame geralmente é um dos menores na composição. Por isso, perder qualidade justamente nessa escolha pode ser uma estratégia cara no futuro, comprometendo os custos, o prazo, a qualidade de seus serviços e pior, a confiança do seu cliente.

Na hora de escolher o melhor arame de solda, é preciso considerar diversos fatores da aplicação, e obviamente, o conhecimento profissional pode ajudar nessa escolha. Há um conjunto de variáveis a serem analisadas, que ajudarão a definir não só a classificação do arame, mas também a bitola e o tipo de acondicionamento, incluindo:

• o tipo de material a ser soldado (tubo, chapa, perfil, aço comum, baixa liga, etc);
• as propriedades mecânicas e químicas do material a ser soldado;
• as espessuras envolvidas, tipos de junta, número de passes etc;
• as posições de soldagem e as soldas que serão feitas em fábrica e em campo;
• as principais exigências do projeto (ensaios e normas envolvidas);
• as condições de trabalho a que a peça será submetida (tipos de esforços, agressividade do ambiente, temperaturas etc);
• os equipamentos e recursos disponíveis (inclusive mão de obra);
• os prazos de entrega;
• os consumíveis disponíveis no mercado nacional.

Considerando o cenário, avalie suas opções, a relação custo-benefício e leve em conta suas particularidades, como custos de mão-de-obra, velocidade na soldagem, custo dos outros consumíveis como gases e outros insumos, como EPIs, antirrespingo, bico, bocal, conduite, e também outros usados nos casos de retrabalhos como discos de desbaste, eletrodos de grafite etc.

Não foque apenas no preço por quilo do arame — alguns produtos mais caros na compra acabam mais econômicos, pois trazem ganhos na utilização, menos retrabalhos, menos horas de soldagem, menos gás de proteção, menos energia elétrica, EPIs etc.

Também não foque apenas nos produtos especiais, causando dependência. Produtos importados geralmente precisam de elevados estoques para garantir que não falte e que a sua obra não pare.

Dito isso, vamos aos principais tipos de arame de solda?

Arame sólido

O arame sólido (maciço), foi o pioneiro dos arames produzidos para soldagem MIG/MAG, reinando absoluto no mercado por mais de 20 anos. Ele substituiu aplicações em que eram anteriormente realizados os processos TIG (GTAW) e eletrodo revestido (SMAW). Hoje, continuam sendo os mais usados, mesmo com o surgimento de outros tipos de arame de solda.

Primeiramente, eram feitos apenas em alumínio, passando em seguida a serem produzidos em aço carbono e em inox. Hoje, há diversas ligas no mercado.

O arame sólido pode ser cobreado ou não cobreado. O cobre na superfície do arame foi planejado para ajudar no deslizamento dentro do conduite e melhorar a qualidade da soldagem. Entretanto, o atrito no sistema alimentador acaba deixando resíduos que causam obstruções no conduite e no bico de contato.

A ausência de cobre na superfície do arame é uma evolução. Para substituí-lo, alguns fabricantes utilizam revestimentos tão eficientes quanto o cobre, mas que não geram resíduos.

Na fabricação dos arames utiliza-se uma matéria prima chamada “fio-máquina” (uma espécie de arame de bitola maior), que passa por um processo de trefilação para alcançar a medida desejada — entre 0,8 e 1,6 mm.

Arame tubular

Já o arame tubular é aquele que, no seu interior, tem um fluxo que funciona como proteção do arco, em relação ao ar atmosférico. Ele é construído, claro, em forma de tubo e no seu interior há duas possibilidades de preenchimento. Veja a seguir!

Arame tubular com alma de fluxo (flux cored)

O interior desse arame é composto por material com duas possíveis funções:

• arame para soldagem com gás de proteção — também chamado simplesmente de tubular, traz em seu interior um fluxo que modifica algumas características do processo de soldagem, como tipo de transferência metálica, perfil de penetração do cordão, taxas de deposição, acabamento e controle da poça de fusão;
• arame para soldagem sem gás de proteção — chamado de autoprotegido, o seu fluxo interno ajuda na proteção da solda, tal qual um eletrodo revestido. Sua tocha é mais leve, não usa bocal e permite a soldagem sem o uso de cabines de proteção, se for ao ar livre.
• O arame tubular autoprotegido possui características próprias que podem exigir ajustes e equipamentos diferentes do MIG-MAG comum para se obter o seu melhor desempenho. Sua principal característica é a facilidade no uso, já que dispensa o uso de gás, sendo por isso indicado para soldagens de campo.

Arame tubular com alma metálica (metal cored)

Esse tipo de arame tem pó metálico no seu interior, que serve como material de adição na soldagem. Durante a soldagem a corrente passa primordialmente pela parte sólida, elevando a densidade da corrente (A/mm²), o que ajuda a aumentar também a sua taxa de fusão e de deposição. Se comparado a um arame sólido de mesma bitola, ambos em mesma faixa de corrente, o resultado fica desproporcional, mas se comparado a um arame sólido de diâmetro ligeiramente menor, ambos em mesma faixa de corrente, portanto mesma densidade de corrente, pode ser uma disputa bastante acirrada para algumas faixas de corrente.

Quais são as normas de fabricação de arames de solda?

A AWS (American Welding Society ou Sociedade Americana de Soldagem) e a ASME (American Society of Mechanical Engineers ou Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos) são organizações não-governamentais que estabelecem as normas de classificação dos insumos usados nos processos de soldagem a arco elétrico, entre outras atividades.

Estas normas possuem diversas especificações, atendendo a grupos específicos de ligas metálicas, ajudam a definir as características físicas, propriedades mecânicas e químicas dos arames, além de impor tolerâncias e limites para cada classificação. Consideram pontos importantes, como:

• fabricação;
• tolerâncias dimensionais;
• realização de ensaios para cada classificação;
• critérios de aceitação;
• embalagem;
• identificação;
• certificação;
• validade;
• aplicações;
• garantias etc.

Normas AWS

No Brasil usamos, quase que unanimemente, as normas americanas AWS e ASME II-C, embora já existam muitas empresas solicitando também o atendimento às normas EN ISO. Em alguns trabalhos podem ser acrescentadas normas internas (caso da Petrobrás), e também alguns segmentos da indústria (por exemplo o Naval) solicitam certificações de Sociedades Classificadoras Navais.

É altamente recomendável que você exija no mínimo o certificado AWS do consumível que vai usar, incluindo o gás de proteção, se for o caso. Nele deve constar a norma e a classificação do produto.

Abaixo, trouxemos uma lista com algumas das principais especificações das normas AWS e ASME, relativas a vários tipos de consumíveis de soldagem:

• A5.1 – SFA 5.1 Eletrodos de Aço Carbono para o Processo de SMAW (Eletrodo Revestido);
• A5.2 – SFA 5.2 Varetas de Aço Carbono e Baixa Liga para o Processo OFW (Oxi-gás);
• A5.4 – SFA 5.4 Eletrodos de Aço Inoxidável para o Processo SMAW (Eletrodo Revestido);
• A5.5 – SFA 5.5 Eletrodos de Aço tipo Baixa Liga para o Processo SMAW (Eletrodo Revestido);
• A5.9 – SFA 5.9 Eletrodos e Varetas de Aço Inoxidável para Processo GMAW (MIG MAG);
• A5.17 – SFA 5.17 Fluxos e Eletrodos de Aço Carbono para ao Processo SAW (Arco Submerso);
• A5.18 – SFA 5.18 Eletrodos e Varetas de Aço Carbono para Processo GMAW (MIG MAG):
• A5.20 – SFA 5.20 Eletrodos de Aço Carbono para o Processo FCAW (Arame Tubular);
• A5.23 – SFA 5.23 Fluxos e Eletrodos de Aço Baixa Liga e Alto Manganês para ao Processo SAW (Arco Submerso);
• A5.28 – SFA 5.28 Eletrodos e Varetas de Aço Baixa Liga para Processo GMAW (MIG MAG):
• A5.29 – SFA 5.29 Eletrodos de Aço tipo Baixa liga para o Processo FCAW (Arame Tubular).

Em cada uma dessas especificações da AWS, são definidos em detalhes os ensaios requeridos para as diversas classificações, a nível de composição química, resistência mecânica, requisitos de impacto, características operacionais etc.

Existem outras duas especificações da norma AWS, que trazem muitas informações que abrangem qualidade.

• A5.01 – Consumíveis de soldagem – Compra de Materiais de Adição e Fluxos
• A5.02 – Metais de Adição – Especificação para Tamanhos Padrão, Embalagens e Atributos Físicos;

A A5.02 é onde estão concentrados os atributos físicos, acondicionamentos, tolerâncias dimensionais etc.

A A5.01 é a auxiliar principalmente para os compradores e consumidores na especificação correta. Ajuda a distinguir tecnicamente materiais que, aparentemente seriam iguais. O nível de teste, por exemplo, informado no certificado que acompanha o consumível adquirido, ajuda a identificar se as informações ali são do próprio lote fornecido ou se são valores típicos (padrão para todos os lotes fornecidos).

Na tabela 1 (Níveis de Testes):

1 ou F – Testes de acordo com o padrão do fabricante;

2 ou G – Testes de qualquer corrida do produto feita no período dos 12 meses precedentes à data da ordem de compra;

3 ou H – Análise química para cada lote fornecido;

4 ou I – Testes específicos (da tabela 2*) para cada lote fornecido;

5 ou J – Todos os testes da classificação exigidos na AWS, para cada lote fornecido;

6 ou K – Todos os testes especificados pelo comprador para cada lote fornecido.

*_Na tabela 2 são especificados os testes requeridos para cada tipo de consumível.

IMPORTANTE: É comum que muitas empresas consumidoras de materiais de solda nem saibam da existência de todos estes detalhes e diferenças entre os materiais de um e outro fabricante. Mas é fundamental saber que, embora possam ser aparentemente idênticos, os consumíveis podem apresentar muitas diferenças de qualidade justamente devido ao nível de testes a que são submetidos em sua fabricação, justificando, em muitos casos, a diferença de preço também.

Viu como é cuidadoso o processo de classificação desses produtos? Isso é devido à importância de conhecer a qualidade deles, já que impactam profundamente na rotina de trabalho em termos de segurança, qualidade e produtividade.

Você precisa conhecer bastante o assunto e saber quais tipos de arame de solda existem e suas aplicações, utilizando cada um da forma correta.

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